
Karla Sofía Gascón relevou como ajudou o argumento do premiado filme Emilia Pérez a encontrar um tom de autenticidade e empatia para a sua personagem trans.
O filme, dirigido por Jacques Audiard, gerou uma onda de reações polarizadas desde a sua estreia. A sua história mistura drama e comédia e conta a história de uma temida ex-líder de cartel mexicana que simula a própria morte para passar por cuidados de afirmação de género. Interpretada por Karla Sofía Gascón, a personagem central, Emilia, enfrenta não apenas as suas próprias batalhas internas, mas também o julgamento da sociedade. A reação da atriz às críticas é tão contundente quanto o drama do filme.
A transformação de Emilia: autenticidade e nuances
Quando recebeu o guião original, Karla Sofía Gascón entendeu que havia problemas na abordagem da transição da sua personagem. Originalmente, a transição de Emilia era retratada como uma estratégia para escapar das autoridades e não uma experiência autêntica de afirmação de género. Para a atriz, a motivação era a chave para dar profundidade à narrativa. “O mais importante para mim foi a motivação”, afirmou. Graças à sua intervenção, o diretor reescreveu partes do guião, focando na experiência da disforia e no percurso emocional de Emilia.
As contribuições de Gascón também trouxeram maior autenticidade à orientação sexual da personagem. Uma cena que mostrava Emilia a abordar um homem na rua foi retirada. “Mudava completamente a perspetiva da personagem e transformava-a em alguém muito mais promíscua”, explicou a atriz, que sentiu que essa abordagem não refletia a sua própria experiência como mulher trans.
Jacques Audiard reconheceu publicamente os equívocos no conceito inicial. “Karla é uma educadora poderosa”, disse. “Ela levou-me a entender que, muito antes da [eventual] transição, já somos quem queremos ser.” Gascón também suavizou a personalidade de Emilia, tornando-a mais empática e acessível.
Reação às críticas: “Ser LGBT não te faz menos idiota”
Embora tenha recebido já diversas indicações e vencido prémios importantes, onde se incluem previsões para o Oscar, Emilia Peréz também enfrentou severas críticas. Parte da comunidade LGBTQ+ e da esquerda acusou o filme de reforçar estereótipos prejudiciais, como a ideia de que pessoas trans são agressivas ou abandonam suas famílias.
Gascón, porém, não poupou palavras ao responder a algumas vozes mais críticas em relação ao filme. “Primeiro, estou cansada de TikTokers, Instagrammers, influenciers e pessoas que acordam de manhã e são todas treinadoras de futebol, todas críticas de cinema“. Apontou também que será fácil “criticar o trabalho de 700 pessoas do seu sofá, sentada ao lado da tua PlayStation”. E continuou: “Afirmam falar por todas as pessoas, mas deixem-me dizer: ser LGBT não te faz menos idiota.”
Karla Sofia Gascón em Emilia Pérez é já um marco na história trans do cinema
Apesar das controvérsias, Karla Sofía Gascón está prestes a fazer história. Se confirmada a sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz, ela tornar-se-á na primeira pessoa abertamente trans a ser indicada nesta categoria.
Enquanto isso, Gascón também se prepara para novos desafios. Além de Emilia Peréz, ela estará no filme Las Malas, dirigido por Armando Bó, e pode vir a colaborar com o celebrado cineasta espanhol Pedro Almodóvar que já demonstrou interesse em trabalhar com ela.
Emilia Peréz não é apenas um filme sobre transição de género; é uma história sobre identidade, empatia e a complexidade das escolhas humanas. Graças à influência de Karla Sofía Gascón, a narrativa foi enriquecida com camadas de autenticidade, tornando-se um marco para a representação trans no cinema. Ao responder às críticas com firmeza e humor, Gascón reafirma a importância de desafiar perspectivas limitadas e abrir espaço para histórias mais diversificadas e humanas.

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