Itália enfrenta onda de violência LGBTQfóbica

Manifestação ‘Per Mano Ovunque’ reuniu 2.000 pessoas em Milão, Itália, contra a violência LGBTQ. Imagem CIG Arcigay Milano.

Nas últimas semanas, a Itália assistiu a uma preocupante escalada de violência motivada por ódio contra pessoas LGBTQ. Segundo a ILGA-Europe, ocorreram pelo menos quatro ataques LGBTQfóbicos no último mês, culminando numa manifestação de grande escala em Milão, onde milhares de pessoas exigiram ações concretas do governo.

De acordo com o Rainbow Map da ILGA-Europe, a Itália ainda carece de proteções legais para pessoas LGBTQ, como leis contra crimes e discurso de ódio. Essa ausência legislativa, já alarmante por si só, torna-se ainda mais grave num contexto de aumento da violência contra esta comunidade. Tal cenário tem sido exacerbado por discursos políticos abertamente LGBTQfóbicos que, ao atacarem a chamada “ideologia de género”, criam um terreno fértil para a justificação e amplificação do ódio na sociedade.

Ataque violento na Passagem de Ano contra casal gay em Bolonha

Entre os ataques mais chocantes, destaca-se um ocorrido na véspera de Ano Novo, quando um casal gay que caminhava de mãos dadas foi brutalmente atacado por dez agressores. O ataque resultou em ferimentos graves, incluindo traumatismo craniano e nariz partido. Além disso, o Cassero LGBTQIA+ Centre foi vandalizado com mensagens ameaçadoras, como: “Espaço livre de paneleiros”, evidenciando o caráter sistémico da LGBTQfobia em ascensão no país.

A retórica e as ações de partidos no poder, como o de Giorgia Meloni, têm sido apontadas como fatores que encorajam esses crimes. Em 2021, a chamada Lei Zan, que propunha classificar a violência contra pessoas LGBTQ, mulheres e pessoas com deficiência como crimes de ódio, foi rejeitada no parlamento. A derrota foi celebrada publicamente pelo partido de Meloni, enviando uma mensagem sobre a falta de compromisso do governo com os direitos humanos.

ILGA-Europa apela condenação inequívoca de governo de Meloni

A ILGA-Europe apelou para que sejam tomadas medidas urgentes de forma serem estabelecidas proteções legais para a comunidade LGBTQ na Itália. O comunicado pede que figuras influentes no governo, como a Primeira-Ministra Giorgia Meloni e a Ministra Eugenia Roccella, condenem publicamente e sem ambiguidades a violência LGBTQfóbica.

A organização enfatiza que aceitar qualquer forma de violência como “novo normal” é incompatível com uma sociedade que se pretende democrática, igualitária e justa. É imperativo que a Itália retome o caminho da inclusão, assegurando que todas as pessoas, independentemente da orientação sexual, identidade de género ou características sexuais, sejam protegidas e valorizadas.

A manifestação em Milão reuniu 2.000 pessoas este sábado e simboliza a resistência e resiliência da comunidade LGBTQ e de pessoas aliadas frente à violência e ao ódio em Itália. Porém, a mudança real requer ação política e legislativa. Enquanto a violência e a discriminação não forem confrontadas de forma decisiva, os direitos humanos continuarão a ser negligenciados em Itália, colocando em risco a vida e o bem-estar de milhares de pessoas. É tempo de transformar indignação em ação e assegurar que a igualdade e a dignidade prevaleçam.



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