
As nomeações para os 97.º Óscares trouxeram marcos históricos para a comunidade LGBTQ+, mas também houve vários ‘snubs’ impossíveis de ignorar. Estes ‘snubs’ levantaram questões sobre a falta de reconhecimento de obras e performances queer celebradas internacionalmente.
Mas comecemos com um apanhado das nomeações conseguidas por artistas e histórias queer. Desde logo a nomeação inédita de Karla Sofía Gascón como a primeira atriz trans indicada para Melhor Atriz Principal em Emilia Pérez. O filme recebeu um total de 13 nomeações, incluindo Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Atriz Secundária com Zoe Saldana.
Também Cynthia Erivo recebeu uma nomeação para Melhor Atriz Principal pelo seu papel em Wicked, a que se junta Ariana Grande nomeada pelo seu papel secundário. O filme recebeu um total de 10 nomeações.
Por fim neste primeiro destaque positivo, temos a nomeação de Demi Moore pela sua icónica Elizabeth no filme The Substance. Coralie Fargeat recebeu aqui as nomeações para melhor realização e melhor argumento original.O filme recebeu um total de 5 nomeações para os Óscares.
Então e o que correu mal? Que outros projetos, igualmente relevantes e celebrados, foram surpreendentemente ignorados?
“Will & Harper” – Um comovente e hilariante documentário ignorado
O documentário Will & Harper foi talvez o maior “snub” LGBTQ+ deste ano. A obra, que narra a emocionante viagem de 17 dias de Will Ferrell e Harper Steele pelos EUA, explora identidade de género, amizade e resiliência trans com uma sensibilidade rara. Apesar de ter sido amplamente elogiado pela crítica e pelo público, não recebeu nenhuma nomeação. Este é um caso emblemático em como histórias que promovem empatia e compreensão continuam a ser subvalorizadas pela Academia.
“Challengers” – Luca Guadagnino sem reconhecimento (parte 1)
O filme Challengers, de Luca Guadagnino, foi aclamado como um dos melhor filme queer de 2024. Com Zendaya, Mike Faist e Josh O’Connor num triângulo amoroso complexo, a obra mistura romance e competição no mundo do ténis. Apesar das críticas extremamente positivas para as performances e para a banda sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, o filme foi totalmente ignorado nas nomeações.
“Queer” – Daniel Craig num desempenho transformador, mas esquecido (e Guadagnino, parte 2)
Outra obra de Guadagnino, Queer, apresentou Daniel Craig no papel mais profundo e emocional da sua carreira. Inspirado no livro semi-autobiográfico de William S. Burroughs, o filme mergulha nas questões de identidade e desejo em 1940. Craig foi elogiado pela crítica e indicado ao Globo de Ouro, mas ficou de fora, surpreendentemente, dos Óscares.
“Love Lies Bleeding” – Katy O’Brian fora da corrida
Em Love Lies Bleeding, Katy O’Brian entregou uma performance arrebatadora como uma bodybuilder atormentada pela sua identidade e busca por aceitação. Sob a direção de Rose Glass e ao lado de Kristen Stewart, a atuação foi amplamente celebrada como uma das melhores do ano. No entanto, a atriz foi ignorada na categoria de Melhor Atriz, deixando a comunidade LGBTQ+ dececionada.
Representação LGBTQ+ ainda longe de ser plena
Embora as nomeações de Emilia Pérez e Wicked tenham trazido reconhecimento importante para histórias LGBTQ+, a ausência de outros nomes e filmes que marcaram a última temporada sublinha a necessidade de mais inclusão. Com centenas de nomeações e vitórias a nível internacional, o poço entre o reconhecimento mundial e a Academia voltou a criar situações como as anteriores.
Com a ideia da subjetividade como intrínseca a estas premiações, importa reconhecer que a Academia tem feito progressos na diversidade. No entanto, os “snubs” de 2025 mostram que ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que todas as histórias, especialmente as de comunidades marginalizadas, sejam plenamente valorizadas e também pela poderosa Academia.

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