
Judith Butler analisou as ações e declarações de Donald Trump que têm gerado ondas de choque em todo o mundo e com implicações profundas para a comunidade LGBTQ. Butler afirma, num artigo de opinião, que Trump está a utilizar o poder de forma sádica, testando os limites da moralidade e das restrições legais. Como devemos, então, lidar com esta narrativa?, questiona.
Trump tem emitido uma série de ordens executivas e declarações públicas que são tanto devastadoras quanto chocantes. Entre estas, destacam-se as proibições de programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) em programas financiados pelo governo federal. Como Butler afirma, “É fácil esquecer ou pôr de lado as ordens executivas da semana anterior: proibições de programas e discursos de diversidade, equidade e inclusão (DEI), bem como a ‘ideologia de género’ em todos os programas financiados pelo governo federal, à medida que novas obscenidades inundam o ciclo de notícias.” Estas ações não só marginalizam grupos vulneráveis, como também desviam a atenção pública de questões interligadas e sistémicas.
Sadismo e autoritarismo rimam com Trump
Butler argumenta que Trump exibe um sadismo sem vergonha, desafiando a moralidade e as restrições legais para mostrar a sua capacidade de o fazer. Este comportamento é celebrado por algumas pessoas como uma forma de “libertação” das ideologias falsas e das obrigações legais. Como escreve Judith Butler, “as excitações do sadismo sem vergonha incitam outrem a celebrar esta versão de masculinidade, uma que não só está disposta a desafiar as regras e princípios que governam a vida democrática (liberdade, igualdade, justiça), mas a encená-las como formas de ‘libertação’ de ideologias falsas e das restrições das obrigações legais.” Este sadismo contagioso alimenta-se da atenção dos media e da celebração pública da crueldade. É “um ódio eufórico” que “desfila agora como liberdade“, enquanto as liberdades que foram conquistadas nas últimas décadas “são distorcidas e atropeladas como “wokeismo” moralmente repressivo“.
Impacto nas Comunidades LGBTQ das políticas de Trump
Um dos alvos principais das políticas de Trump tem sido a comunidade LGBTQ, especialmente as pessoas trans, intersexo e não-binárias. Ao proibir o uso do termo “género” e desafiar o sistema binário de sexo, Trump está a atacar os direitos fundamentais destas pessoas. Butler sublinha que “negar a existência e os direitos das pessoas trans, intersexo e não-binárias […] ataca os próprios fundamentos das suas vidas.” A discriminação contra pessoas trans e de género variado foi considerada discriminação com base no sexo pelo Supremo Tribunal (Bostock v Clayton, 2020), reforçando a importância de proteger estes direitos.
Consequências amplas
As ações de Trump têm implicações mais vastas, incluindo deportações forçadas de imigrantes e ameaças à cidadania por nascimento. Estas políticas não só atacam estas comunidades, como também desafiam os princípios da democracia constitucional. São, por isso, também questões de legalidade. Judith Butler alerta para o perigo da paralisia por indignação, em vez de ações concretas para proteger os direitos fundamentais e a democracia. Como afirma, “se continuarmos a deixar-nos dominar pela indignação e a paralisar com cada nova declaração diária, falharemos em discernir o que as liga.” A captura do discurso pelas suas declarações é precisamente o objetivo dessas mesmas declarações e tal pode levar à paralisia social. “Embora haja todos os motivos para a indignação, não podemos deixar que essa indignação nos inunde e pare as nossas mentes“.
Devemos assim lutar por uma liberdade igualmente partilhada e por uma igualdade que cumpra as promessas democráticas. Como Butler sugere, devemos “imaginar um mundo em que o governo apoia a saúde e a educação para todas as pessoas, onde todas vivemos sem medo, sabendo que as nossas vidas interligadas são igualmente valiosas.”

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