8 de Março: como a saúde das mulheres está no centro da igualdade

8 de Março: como a saúde das mulheres está no centro da igualdade

Fotografia por Vonecia Carswell.

A 8 de março celebra-se o Dia Internacional das Mulheres, um momento de reflexão sobre conquistas, desafios e a necessidade de ação contínua para a igualdade de género. Esta data, reconhecida pela ONU desde 1975, tem raízes nos movimentos operários do início do século XX, quando mulheres exigiram melhores condições de trabalho, direitos políticos e equidade salarial. Décadas depois, apesar dos avanços – e alguns, demasiados, recúos -, ainda são enfrentadas desigualdades persistentes em diversas áreas, incluindo a saúde.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) sublinha, neste 8 de março, a importância de construir um mundo mais saudável pelas mulheres e para as mulheres. O relatório da OMS destaca que a saúde é um pilar essencial para alcançar a igualdade de género e que um sistema de saúde justo e inclusivo permite que mulheres e raparigas tenham vidas mais saudáveis e oportunidades iguais.

Saúde: um direito ainda desigual

As necessidades de saúde das mulheres variam ao longo da vida, desde a saúde reprodutiva e materna até às doenças não transmissíveis e ao envelhecimento. No entanto, barreiras estruturais continuam a colocar mulheres em risco acrescido, sobretudo em países de baixo e médio rendimento. Um exemplo gritante é a poluição do ar em ambientes domésticos: mulheres expostas a combustíveis poluentes têm um risco 46% maior de desenvolver cataratas. Além disso, duas em cada três mulheres morrem devido a doenças como o cancro, diabetes e doenças cardiovasculares, com a maioria dessas mortes a ocorrer em países mais pobres.

Violência contra mulheres ainda é um problema social sistémico

A violência contra mulheres é outro problema crítico, com um terço das mulheres em todo o mundo a sofrer violência física ou sexual ao longo da vida. Em Portugal e em 2024, das 30.279 queixas por situações de violência doméstica (a esmagadora maioria contra mulheres), resultaram 19 mortes de mulheres (e 3 homens).

A OMS aponta que também no setor da saúde, onde as mulheres são a maioria, não está imune a este problema, sendo que quase um quarto dos casos de violência laboral ocorre em ambientes de saúde e cuidados. Estes fatores, aliados a desigualdades no acesso a alimentação, educação e rendimentos, agravam ainda mais a vulnerabilidade das mulheres.

Barreiras no acesso à saúde por mulheres trans

Além disso, mulheres trans enfrentam fortes barreiras no acesso a cuidados de saúde adequados e respeitosos. A falta de formação específica para profissionais de saúde, a discriminação nos serviços médicos e a ausência de políticas de inclusão dificultam o acesso a tratamentos essenciais, incluindo cuidados hormonais, apoio psicológico e rastreios médicos fundamentais. A exclusão destas mulheres dos sistemas de saúde reforça desigualdades e compromete o seu bem-estar.

(Pouco) Acesso à interrupção voluntária da gravidez

Em Portugal, mais de 30% dos hospitais do SNS recusam, devido à objeção de consciência das equipas médicas, fazer interrupção voluntária da gravidez. Neste contexto, “há mulheres a esperar várias semanas – em violação da lei – para aceder a este direito que, consagrado desde 2007, só podem exercer no prazo mais curto da Europa“.

Mulheres na saúde: protagonistas essenciais, mas ainda invisíveis

As mulheres representam 67% da força de trabalho global na área da saúde e cuidados, sendo essenciais para a prestação de serviços, inovação e formulação de políticas. No entanto, continuam a enfrentar desigualdades, como uma diferença salarial de 24% em relação aos homens, mesmo com níveis de formação semelhantes. Para mães e mulheres de grupos marginalizados, esse fosso é ainda maior.

Com um défice global projetado de 11,1 milhões de profissionais de saúde até 2030, a participação ativa das mulheres é essencial. Mas para que sejam agentes de mudança, é necessário garantir-lhes equidade salarial, acesso a cargos de decisão e reconhecimento pelo seu trabalho.

Um compromisso coletivo para um futuro mais justo

A transformação dos sistemas de saúde em estruturas verdadeiramente equitativas requer que as mulheres estejam no centro das decisões, não apenas como cuidadoras, mas também como líderes. A OMS reforça o compromisso em apoiar políticas e investimentos que garantam a equidade no setor da saúde e incentivem a participação plena das mulheres.

Neste Dia Internacional das Mulheres, o apelo é claro: investir na saúde e no bem-estar das mulheres é um passo essencial para a igualdade de género e para uma sociedade mais justa. Garantir que os compromissos assumidos na Declaração de Pequim [.pdf] se traduzam em ações concretas é uma responsabilidade coletiva que exige urgência. Só assim construiremos um mundo mais saudável, equitativo e sustentável para todas as pessoas.



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Uma resposta a “8 de Março: como a saúde das mulheres está no centro da igualdade”

  1. […] LGBTI+, seja por serem negados os direitos mais essenciais às mulheres (afinal de contas, também estamos em março), ou seja pelos crimes e discurso de ódio que continuam a crescer em Portugal e por todo o mundo […]

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