
Depois de pressionar empresas portuguesas a abandonarem políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), a Administração Trump estende agora essa ofensiva ao ensino superior. Universidades públicas em Portugal, como o Instituto Superior Técnico (IST), começaram a receber questionários ideológicos enviados pela embaixada dos Estados Unidos, acompanhados de ameaças de cancelamento de financiamento.
O IST viu suspenso, com “efeito imediato”, o programa American Corner, que funcionava há mais de dez anos e promovia atividades culturais e científicas. No mesmo dia, recebeu também um inquérito com perguntas que o presidente da instituição, Rogério Colaço, considerou “bastante desadequadas”. Entre as questões, constavam dúvidas sobre se o Técnico colaborava com organizações terroristas, cartéis de droga ou grupos que promovem a imigração em massa.
“A resposta foi que o Técnico não iria responder ao questionário porque não se adequava a uma instituição de ensino superior pública, sujeita a escrutínio público e legal de um país democrático, membro da União Europeia”, afirmou Rogério Colaço à agência Lusa.
O IST reconhece “a Diversidade como “origem de poder, sendo um fator crucial de sucesso na área da Ciência e Tecnologia“, onde “a qualidade e a excelência dependem hoje de uma política de inclusão“.
Proteger mulheres das ideologias de género
Outras instituições, como a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) e a Universidade de Aveiro, também receberam o mesmo questionário. Hermenegildo Fernandes, diretor da FLUL, ficou “estupefacto” com o que descreveu como “a dimensão do descaramento das perguntas”, nomeadamente sobre contactos com partidos comunistas ou socialistas e ações para “preservar as mulheres das ideologias de género”.
Em resposta, a maioria das instituições recusou preencher o inquérito. Paulo Jorge Ferreira, reitor da Universidade de Aveiro e presidente do Conselho de Reitores, foi claro: “O conselho de reitores discutiu o assunto e as perguntas, pela sua natureza, configuram uma intromissão intolerável na autonomia das instituições e na sua liberdade de investigação e da ação académica.”
“Não me parece correto condicionar as instituições ou pedir-lhes que informem acerca de coisas que são ofensivas para a sua independência e para a sua liberdade académica“, rematou.
Trump pretende erradicar políticas de diversidade, equidade e inclusão
Este novo episódio surge na sequência da ordem executiva assinada por Donald Trump a 21 de janeiro, que visa erradicar todas as iniciativas DEI do governo federal estadunidense. A ofensiva inclui o fim de formações antidiscriminatórias, programas de recrutamento inclusivo, medidas de acessibilidade e ações de correção de desigualdades salariais.
Ainda que os valores financeiros envolvidos nos American Corners sejam reduzidos, o simbolismo é forte: a Administração de Trump mostra-se disposta a condicionar parcerias e apoios com base numa adesão ideológica que rejeita os princípios da ciência, dos direitos humanos e da inclusão.
Governo dos EUA expande hostilidade contra minorias além fronteiras
Estas ações têm impacto real nas vidas de pessoas e comunidades historicamente marginalizadas. Ao questionar iniciativas que promovem equidade e representatividade, o Governo dos EUA transmite uma mensagem clara de hostilidade.
A resposta de universidades portuguesas é um sinal importante de firmeza democrática. Mas este episódio alerta para algo maior: o risco de normalização de uma política de exclusão. Por isso, defender a autonomia académica, os direitos humanos e a diversidade não é apenas uma escolha — é uma necessidade urgente.

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