Portugal entre os 20 países que exigem ação da UE contra proibição do Pride na Hungria

Portugal entre os 20 países que exigem ação da UE contra proibição do Pride na Hungria

Vinte países da União Europeia, incluindo Portugal, desafiaram Budapeste e exigem ação da Comissão Europeia. Em causa está a liberdade de expressão, reunião e os direitos fundamentais das pessoas LGBTI+.

A proibição da Marcha do Orgulho LGBTI+ marcada para 28 de junho em Budapeste gerou uma forte resposta por parte de vinte países da União Europeia. Esta terça-feira, Alemanha, Portugal, França, Países Baixos e outros Estados-membros instaram a Comissão Europeia a agir perante mais um passo autoritário do governo húngaro, liderado por Viktor Orbán.

No centro das críticas estão as novas emendas à Constituição húngara, aprovadas em março e abril, que permitem às autoridades proibir eventos considerados “prejudiciais” para o “desenvolvimento físico, mental e moral das crianças”. Um conceito vago e ideologicamente manipulado, usado como justificação para impedir marchas e manifestações LGBTI+, e que confere prioridade absoluta a esta ideia de “proteção” em detrimento de outros direitos fundamentais.

Além disso, as autoridades húngaras foram autorizadas a usar tecnologias de reconhecimento facial para identificar participantes e organizadores de eventos proibidos, prevendo punições com multas. Esta combinação de censura, vigilância e repressão remete para tempos que se pensavam ultrapassados na Europa.

Direitos LGBTI+ não são ameaça contra crianças e jovens

“Estamos muito alarmados com estes desenvolvimentos, que são contrários aos valores fundamentais da dignidade humana, da liberdade, da igualdade e do respeito pelos direitos humanos”, lê-se na declaração conjunta.

Durante a reunião do Conselho de Assuntos Gerais da UE, o comissário europeu para a Justiça, Michael McGrath, lembrou que os direitos de reunião e expressão “não ameaçam as crianças nem ninguém”, defendendo que devem ser protegidos “em todas as circunstâncias“. McGrath confirmou que a Comissão está a acompanhar a situação e não exclui o uso de medidas interinas para defender a Carta dos Direitos Fundamentais.

No entanto, e apesar da urgência da situação, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, desaconselhou a participação de pessoas comissárias na marcha de Budapeste, para evitar “antagonizar” e “provocar” o governo húngaro — um gesto que gerou desilusão entre ativistas e defensoras dos direitos humanos.

ILGA Europe reage com firmeza

“Isto não é só sobre a Pride de Budapeste. É sobre a credibilidade da UE enquanto união fundada nos direitos, liberdades e no Estado de direito.”

A ILGA Europe apelou à Comissão Europeia para que solicite de imediato medidas provisórias ao Tribunal de Justiça, no âmbito do processo em curso contra a chamada “lei de proteção das crianças” — a mesma lei usada agora para justificar a proibição de manifestações LGBTI+. O parecer do advogado-geral da UE sobre este processo será conhecido a 5 de junho.

Entretanto, Orbán continua a avançar com projetos de lei que visam silenciar vozes críticas e independentes na Hungria. Uma proposta recente prevê o encerramento de organizações da sociedade civil e meios de comunicação com financiamento externo, sob o argumento de proteger a “soberania nacional”.

Conselho da União Europeia sem unanimidade perante atropelos da Hungria

Apesar da indignação, a União Europeia continua limitada na sua resposta. O processo de infração ao abrigo do artigo 7.º segue parado, por falta de unanimidade no Conselho da UE. E enquanto os direitos das pessoas LGBTI+ continuam a ser atacados, a Comissão arrisca transformar o seu silêncio em cumplicidade.

Porque o que está em causa vai muito além da Marcha do Orgulho LGBTI+ de Budapeste. Está em causa o compromisso da Europa com os direitos humanos, com a diversidade e com a liberdade de se ser plenamente.



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Uma resposta a “Portugal entre os 20 países que exigem ação da UE contra proibição do Pride na Hungria”

  1. […] Orbán, ter aprovado em março uma lei que permite a proibição de marchas LGBTQ+, alegando “proteção das crianças“. A mesma lei autoriza ainda a vigilância com câmaras de reconhecimento facial, levantando […]

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