
A organização do EuroPride 2025 volta a ser alvo de críticas, desta vez pelo convite a Carlos Reis, deputado do PSD, como orador da sua conferência de direitos humanos. O comunicado conjunto das Panteras Rosa e do Comité de Solidariedade com a Palestina denuncia o envolvimento do parlamentar com o lobby pró-Israel e acusa o evento de normalizar o genocídio na Palestina, além de ignorar os apelos de várias organizações LGBTI+ portuguesas.
A sessão em causa, intitulada “Defending Equality: Military Spending and LGBTQIA+ Rights”, decorre esta sexta-feira, 20 de junho, no Cinema São Jorge, e inclui Carlos Reis entre as pessoas oradoras. O comunicado lembram que Reis integrou recentemente uma delegação portuguesa financiada pela ELNET, o maior lobby pró-Israel na Europa, e apontam que nenhuma das pessoas deputadas declarou essa deslocação ao Parlamento — como é legalmente obrigatório.
As críticas intensificam-se com declarações públicas do próprio deputado, que justificou o seu apoio ao Estado de Israel dizendo:
“Estou do lado do único país do Médio Oriente que não humilha, não tortura, nem prende, nem mata pessoas como eu.”
No comunicado, os coletivos afirmam que esta posição instrumentaliza a identidade LGBTI+ para branquear crimes de guerra e encobrir práticas de apartheid contra o povo palestiniano. Mais, a afirmação até pode ser real para Tel Avive, mas não necessariamente para toda Israel e muito menos para pessoas LGBTQ+ palestinianas que são muitas vezes usadas para denunciar outras com medo de serem expostas.
Além disso, destacam o papel de Carlos Reis como um dos nomes responsáveis pela tentativa de retirar de circulação o guia “O Direito a Ser nas Escolas”, um recurso de combate à discriminação em contexto escolar. Este ataque ao direito à educação inclusiva foi amplamente criticado por organizações da sociedade civil.
“É para nós inconcebível que Carlos Reis esteja em qualquer evento LGBTI+ para algo que não seja prestar justificações pelo seu contributo nefasto para todos os jovens que a discriminação continua a vitimizar”, lê-se no comunicado.
EuroPride alvo de múltiplas denúncias
Esta nova controvérsia soma-se a outras polémicas em torno da organização do EuroPride 2025 em Lisboa, nomeadamente em relação a investigações por suspeitas de desvio de dinheiro, abuso de confiança e burla. Também a denúncia de pinkwashing e de ligações políticas foram chamadas à atenção.
A conferência de direitos humanos do EuroPride 2025, que decorre entre os dias 19 e 20 de junho, foi também criticada por apresentar um programa maioritariamente composto por figuras institucionais e representantes de negócios LGBTI+, com escassa participação de coletivos de Prides — apenas Helsínquia e Kiev — e uma quase ausência total de vozes vindas do Médio Oriente.
Para as Panteras Rosa, esta ausência não é casual, mas sintomática de uma “visão parcial e eurocêntrica” sobre os direitos humanos.
“O nosso orgulho são os direitos humanos” — assim termina o comunicado, exigindo o afastamento de Carlos Reis e de qualquer participante ligado a práticas e regimes que violem esses princípios.
A conferência decorre entre os dias 19 e 20 de junho, integrada no EuroPride 2025, que se prolonga até domingo em Lisboa. A presença de Carlos Reis é agora mais um ponto de tensão num evento que, longe de unir, tem dividido profundamente o movimento LGBTI+ em Portugal.

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