
Apesar da proibição que se arrasta desde 2015, centenas de pessoas voltaram a sair às ruas de Istambul este domingo, 29 de junho, para assinalar o Pride. A resposta das autoridades turcas foi violenta: pelo menos 50 pessoas foram detidas, entre pessoas ativistas, jornalistas, advogadas e até uma deputada.
Segundo a ILGA Europe, a polícia atacou o grupo de participantes enquanto liam um comunicado à imprensa. As detenções estenderam-se a bairros próximos, muitas vezes com base apenas em suspeitas. Em casos relatados, pessoas ativistas foram algemadas e levadas por agentes à paisana — algumas encontravam-se simplesmente a jantar num restaurante a vários quilómetros do percurso previsto da marcha.
As pessoas detidas ainda não foram até ao momento libertadas, permanecendo sob custódia e com a expectativa de terem de testemunhar perante juiz. Em anos anteriores, as detenções terminavam geralmente com declarações à polícia e posterior libertação.
Turquia tem vindo a apertar políticas contra a população LGBTI+
A repressão ao Pride de Istambul acontece num contexto político cada vez mais hostil à comunidade LGBTI+. O presidente Recep Tayyip Erdoğan, no poder desde 2014, declarou 2025 como o “Ano da Família”, intensificando a retórica anti-LGBTI. Em declarações públicas, já afirmou que a comunidade “LGBT não vai emergir neste país” e defendeu ainda que as famílias devem “manter-se direitas, como um homem”.
Apesar de a homossexualidade ser legal na Turquia, os direitos das pessoas LGBTI+ estão gravemente limitados. O país não reconhece uniões ou adoções por casais do mesmo sexo, não existem proteções legais contra a discriminação e pessoas LGBTI+ são excluídas do serviço militar. Em 2024, a Turquia obteve apenas 5 pontos em 100 no Mapa Arco-Íris da ILGA-Europe.
A ILGA-Europe alerta: “Devemos demonstrar igual solidariedade com a comunidade LGBTI na Turquia, apoiando quem organiza o Pride de Istambul e quem defende os direitos humanos perante um governo que intensifica políticas e discursos repressivos”.
Enquanto dezenas de milhares marcharam em Budapeste no último fim de semana para protestar contra a proibição do Pride na Hungria, o silêncio internacional sobre a situação em Istambul é ensurdecedor. O orgulho que ecoa nas ruas da Turquia, um país que sempre quis ser uma ponte entre a Europa e o Médio Oriente, é corajoso — e merece ser ouvido, amplificado e protegido.

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