BoCA 2025 celebra caminhos queer e feministas entre Lisboa e Madrid

Solas” da coreógrafa sevilhana Candela Capitán na BoCA 2025.

A BoCA – Bienal de Artes Contemporâneas regressa para a sua 5.ª edição, de 10 de setembro a 26 de outubro, com um novo eixo ibérico que liga Lisboa e Madrid. Sob a curadoria de John Romão, o tema Camino Irreal convida a percorrer desvios simbólicos, a reconfigurar os mapas oficiais e a abrir espaço para outras narrativas, corpos e memórias.

Este ano, várias criações colocam em destaque perspetivas queer, feministas e de justiça social, habitando teatros, museus e espaços públicos das duas cidades. Confere os nossos destaques:

“Os Rapazes da Praia Adoro”: Intimidade queer e reconciliação ibérica

BoCA Os Rapazes da Praia Adoro João Gabriel

Em “Os Rapazes da Praia Adoro”, o dramaturgo espanhol Alberto Cortés e o pintor português João Gabriel criam uma praia imaginária a meio caminho entre Lisboa e Madrid. Um território queer, íntimo e poético que dialoga com o imaginário do cruising e a sensualidade das pinturas de Gabriel.

Cortés, natural de Málaga (1983), é conhecido por uma dramaturgia que cruza teatro, dança e performance, transformando o palco em espaço de desejo e fragilidade. Gabriel, por sua vez, trabalha a pintura a partir do erotismo masculino, inspirado pelo cinema gay dos anos 70 e 80. Juntos, exploram outras formas de entender a intimidade entre homens — como um gesto de cura e reconciliação.

  • Datas e locais: 25 e 26 de outubro no Teatro do Bairro Alto, Lisboa.

“Analphabet”: Um fantasma queer à beira-mar*

BoCA 2025 Alberto Cortés “Analphabet”

Ainda com Alberto Cortés, surge “Analphabet”, peça que inaugura a bienal a 10 e 11 de setembro, no Teatro do Bairro Alto.

Um fantasma romântico, simultaneamente poético, queer e trágico, aparece à beira-mar para confrontar a ideia de casal. Esta entidade visita relações em crise não para as curar, mas para revelar as feridas que nelas persistem – sobretudo nas relações queer ainda atravessadas por estruturas patriarcais.

Inspirada pelo romantismo alemão e pela densidade emocional andaluza e basca, a peça é mais evocação do que narrativa: uma canção dilacerada, um poema encarnado, um aviso lírico de que o amor, para ser lugar de cuidado, precisa ser reescrito a partir da fragilidade.

* Atualização: As sessões do espetáculo 𝐀𝐧𝐚𝐥𝐩𝐡𝐚𝐛𝐞𝐭 de Alberto Cortés, previstas para 10 e 11 de setembro, foram canceladas. As equipas estão a tentar encontrar uma nova data para apresentar este espetáculo.

“13 Alfinetes”: Desejo, fé e espectros

A dupla João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata estreia a curta‑metragem “13 Alfinetes” na Cinemateca Portuguesa, a 15 de outubro. Entre Lisboa e Madrid, o filme cruza devoção e desejo, inspirando-se num milagre atribuído a Santo António para construir uma narrativa profana e sensual.

“O Julgamento de Pelicot”: A violência contra as mulheres em tribunal performativo

BoCA 2025 “O Julgamento de Pelicot”, de Milo Rau e Servane Dècle.

Milo Rau e Servane Dècle trazem “O Julgamento de Pelicot” ao Panteão Nacional, a 11 de outubro. Uma vigília performativa de cinco horas que revisita o caso real de Gisèle Pelicot, vítima de mais de 200 violações sob submissão química, transformando o espaço em tribunal de memória e resistência.

“Ramonera”: Poesia muxe e resistência cultural

A poeta mexicana Elvis Guerra, pessoa muxeum terceiro género reconhecido pela sociedade zapoteca – apresenta “Ramonera” em Lisboa. Uma leitura poética em zapoteco, com tradução para português europeu, que resgata identidades indígenas fora da norma colonial e binária.

“Solas”: Vigilância digital do corpo feminino

BoCA 2025 Candela Capitán, Solas

A coreógrafa sevilhana Candela Capitán apresenta “Solas”, performance que critica a sobre-exposição do corpo feminino nas redes sociais. Entre palco e streaming, a obra denuncia o narcisismo algorítmico e a mercantilização do desejo. É questionado pela artista o hiperindividualismo, bem como o narcisismo algorítmico e a opacidade de uma cultura vigente onde tudo é mostrado mas pouco é verdadeiramente compreendido.


Ao longo de seis semanas, a BoCA 2025 desenha um Camino Irreal feito de intimidade, memória e resistência. Das presenças fantasmáticas de Cortés às vozes indígenas de Elvis Guerra, passando por performances que interrogam desejo, violência e justiça, a bienal afirma-se como um espaço para imaginar futuros plurais.

Podes conferir toda a programação do BoCA 2025 no seu site.


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Uma resposta a “BoCA 2025 celebra caminhos queer e feministas entre Lisboa e Madrid”

  1. […] nossos destaques da BoCA podem ser consultados aqui. Mais informações sobre toda a programação em […]

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