Livros: Polari Prize cancelado após polémica com John Boyne, auto-declarado TERF

Livros: Polari Prize cancelado após polémica com John Boyne, auto-declarado TERF

O Polari Prize, um dos mais prestigiados prémios literários do Reino Unido dedicados à escrita LGBTQ+, anunciou o cancelamento da edição de 2025. A decisão surge depois da polémica provocada pela inclusão do escritor irlandês John Boyne, que se descreveu como “terf” — acrónimo de trans-exclusionary radical feminist.

Boyne, autor de O Rapaz do Pijama às Riscas (2006), estava nomeado com a novela Earth para o prémio principal. Mas a sua presença gerou uma onda de protestos: de um total de 24 obras nomeadas, 16 foram retiradas em solidariedade com a comunidade trans, acompanhadas pela renúncia de duas pessoas do júri. Mais de 800 escritoras, escritores e profissionais da edição assinaram ainda uma carta aberta a exigir a sua exclusão.

Entre as pessoas que se afastaram do prémio estiveram nomes como Nicola Dinan, vencedora da edição anterior do Polari First Book Prize, o jornalista Jason Okundaye, o poeta Andrew McMillan e a historiadora Eleanor Medhurst. A carta de protesto, assinada por 821 pessoas, contou também com nomes como Alice Oseman (Heartstopper), Nikesh Shukla, e Seán Hewitt.

A posição da organização

Num comunicado divulgado a 19 de agosto, a organização reconheceu: “O que deveria ser uma celebração da literatura LGBTQ+ excecional foi ensombrado por dor e raiva, o que tem sido doloroso para todas as pessoas envolvidas, e pedimos desculpa às afetadas.”

O Polari anunciou que vai “pausar o prémio este ano” e rever os processos internos, aumentando a representação de pessoas trans e de género não conforme nos painéis e conduzindo uma revisão de governação e gestão. “Somos uma pequena operação, sustentada por boa vontade e pequenos fundos há 15 anos, e procuraremos seguir em frente de boa fé”, acrescentou.

Esta posição marca uma mudança em relação ao comunicado inicial, de 7 de agosto, onde a organização tinha defendido que Boyne tinha sido nomeado “pelo mérito” e que, dentro da comunidade LGBTQ+, seria “inevitável” existirem “posições radicalmente diferentes em questões substantivas”.

Reações e críticas

Jason Okundaye, que retirou o seu livro Revolutionary Acts, escreveu no Guardian que o prémio “sempre foi para toda a comunidade LGBTQ+” e que, por isso, “é uma contradição incluir alguém trans-excludente”.

Por seu lado, John Boyne reagiu acusando o Polari de praticar uma “auto-cultura de cancelamento”. No Telegraph, afirmou que ninguém da organização o contactou e que “talvez se tivesse havido diálogo, uma solução mais feliz poderia ter sido encontrada”.

O contexto hostil vivido no Reino Unido

Este episódio acontece num momento em que o Reino Unido vive um ambiente de crescente hostilidade contra pessoas trans. Discursos trans-excludentes têm ganho espaço nos meios de comunicação social, na política e até em setores culturais. Para muitas pessoas, o cancelamento do Polari Prize simboliza a dificuldade em proteger espaços seguros e inclusivos num contexto em que a retórica anti-trans se normalizou.

Ao mesmo tempo, reforça a necessidade de prémios e instituições culturais assumirem uma responsabilidade ativa na defesa da inclusão. Como resumiu a carta aberta organizada por Niamh Ní Mhaoileoin e Emma van Straaten: “Queremos um prémio literário que reconheça a importância vital das histórias queer e trans. É por isso que apelamos à restauração da integridade deste prémio como um espaço seguro, inclusivo e celebratório para a comunidade LGBTQ+.”


Subscreve à nossa Newsletter Semanal Maravilha Aqui! 🙂
Todos os sábados de manhã receberás um resumo de todos os artigos publicados durante a semana. Sem stress, sem spam, a nossa orgulhosa Newsletter Semanal pode ser cancelada a qualquer momento! 🏳️‍🌈


A esQrever no teu email

Subscreve e recebe os artigos mais recentes na tua caixa de email

Deixa uma resposta

Apoia a esQrever

Este é um projeto comunitário, voluntário e sem fins lucrativos, criado em 2014, e nunca vamos cobrar pelo conteúdo produzido, nem aceitar patrocínios que nos possam condicionar de alguma forma. Mas este é também um projeto que tem um custo financeiro pelas várias ferramentas que precisa usar – como o site, o domínio ou equipamento para a gravação do Podcast. Por isso, e caso possas, ajuda-nos a colmatar parte desses custos. Oferece-nos um café, um chá, ou outro valor que te faça sentido. Estes apoios são sempre bem-vindos 🌈

Buy Me a Coffee at ko-fi.com