Gloria Gaynor: quando um ícone queer apoia Trump, deixa de ser um ícone queer?

Gloria Gaynor: quando um ícone queer apoia Trump, deixa de ser um ícone queer?

Gloria Gaynor, voz de I Will Survive, é há décadas celebrada como diva queer e ícone de resistência. Mas a revelação de que tem doado milhares de dólares ao fundo MAGA de Donald Trump abriu uma ferida difícil de sarar entre a artista e a comunidade LGBTQIA+ que a consagrou.

O contraste é chocante. Lançado em 1978, I Will Survive tornou-se um hino de sobrevivência e orgulho, especialmente durante a epidemia de sida e em contextos de discriminação. Foi a comunidade queer e negra que lhe deu um estatuto lendário, transformando-a numa diva de resistência e libertação.

Hoje, porém, Gaynor apoia agentes políticos e organizações que defendem leis anti-LGBTQ+ e medidas que restringem direitos civis. Desde agosto de 2023, a cantora doou quase 22 mil dólares a candidatos republicanos, incluindo Ted Cruz, Marco Rubio, Mike Johnson e Vivek Ramaswamy.

Sentimento de traição

Para muitas pessoas queer, esta escolha representa uma traição simbólica. O choque nasce de uma contradição dolorosa: a mesma artista que foi erguida como bandeira de liberdade escolhe nos últimas anos – e agora revelado – financiar forças políticas que atacam as vidas das comunidades que a veneraram.

Gaynor confirmou que aceitará a distinção do Kennedy Center Honour, afirmando:

Partilhar a minha música e arte a nível global para proporcionar coragem, esperança, empoderamento, inspiração, compreensão e unidade é o núcleo do meu propósito.”

Mas estas palavras soam ocas perante os factos. E não é a primeira vez que a cantora se distancia da comunidade: em 2007, à BBC, quando questionada sobre homossexualidade, respondeu: “Conduzi-as a Cristo e ao que Ele lhes diz… a verdade.”

Gloria Gaynor, um ícone em contradição

A questão é inevitável: quando um ícone queer apoia ativamente agentes políticos que colocam em causa os direitos queer, continua a ser um ícone queer?

A icónica canção I Will Survive pertence a quem a transformou em hino, ecoando ainda hoje em marchas e celebrações de orgulho. Mas a artista que a interpretou parece ter escolhido um caminho em contradição com esse legado. Talvez seja este o dilema definitivo de Gloria Gaynor: a obra sobrevive, mas a relação com a comunidade queer dificilmente voltará a ser a mesma. Mas a verdade é que, como comunidade, temos todo o nosso amor para dar e, sim, havemos de sobreviver, com ou sem Gloria Gaynor.


Subscreve à nossa Newsletter Semanal Maravilha Aqui! 🙂
Todos os sábados de manhã receberás um resumo de todos os artigos publicados durante a semana. Sem stress, sem spam, a nossa orgulhosa Newsletter Semanal pode ser cancelada a qualquer momento! 🏳️‍🌈


A esQrever no teu email

Subscreve e recebe os artigos mais recentes na tua caixa de email

Deixa uma resposta

Apoia a esQrever

Este é um projeto comunitário, voluntário e sem fins lucrativos, criado em 2014, e nunca vamos cobrar pelo conteúdo produzido, nem aceitar patrocínios que nos possam condicionar de alguma forma. Mas este é também um projeto que tem um custo financeiro pelas várias ferramentas que precisa usar – como o site, o domínio ou equipamento para a gravação do Podcast. Por isso, e caso possas, ajuda-nos a colmatar parte desses custos. Oferece-nos um café, um chá, ou outro valor que te faça sentido. Estes apoios são sempre bem-vindos 🌈

Buy Me a Coffee at ko-fi.com