Stress, invisibilidade e preconceito: estudo expõe ambiente hostil para profissionais de saúde LGBTQ+

Stress, invisibilidade e preconceito: estudo expõe ambiente hostil para profissionais de saúde LGBTQ+

Quase metade das pessoas LGBTQ+ que trabalham na saúde já sofreu discriminação no emprego.

A conclusão é do estudo PULSAR, desenvolvido no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e coordenado por Mara Pieri. O trabalho envolveu 178 profissionais de várias áreas clínicas e mostra um cenário de preconceito, discriminação e discurso de ódio.

O número assusta porque confirma uma realidade persistente. Insultos, comentários homofóbicos ou transfóbicos, ameaças e até impedimentos de exercer funções aparecem nas respostas do inquérito. Por exemplo, um enfermeiro gay foi impedido de cuidar de jovens do sexo masculino, uma situação que expõe preconceitos que atravessam equipas e lideranças.

Mesmo quem nunca viveu estes episódios diretamente relata ter visto acontecer. Metade das pessoas inquiridas já presenciou discriminação contra colegas. O ambiente de trabalho também é marcado por piadas e comentários ofensivos, relatados por 83% das respostas.

Muitas destas situações surgem mesmo sem que exista qualquer revelação sobre orientação sexual ou identidade de género, ou seja, são pessoas que serão percecionadas como tal. O preconceito, como costume, varre também pessoas que simplesmente não se encaixam em padrões vigentes.

Formação sobre questões LGBTQ+ é essencial em profissionais de saúde

Mais de metade das pessoas participantes afirma que ser LGBTQ+ é uma fonte de stress no trabalho. O estudo aponta para fatores que agravam o desgaste emocional: ignorância, falta de formação e ausência de políticas explícitas. Este desgaste afeta a saúde mental e cria um ciclo de invisibilidade.

A maioria das pessoas LGBTQ+ que trabalha no setor nunca revela a sua identidade a utentes. Essa ausência de referências faz parecer que não existem profissionais LGBTQ+ na saúde e, portanto, que não há urgência em agir.

Há também impacto económico. A discriminação custa à União Europeia milhões de euros todos os anos. A perda estimada chega aos 89 milhões de euros em produtividade e PIB. Não é apenas uma questão de direitos, é uma questão de qualidade de vida, desempenho e sustentabilidade.

O caminho é conhecido, mas é preciso ação

O estudo deixa um caminho claro. 73% das pessoas inquiridas defendem formação obrigatória em questões LGBTQ+ para todas as equipas. Mais de metade considera que os seus locais de trabalho não estão preparados para acolher utentes LGBTQ+. Fala-se muito sobre tornar os serviços mais inclusivos, mas isso exige começar por quem os integra. Exige criar condições seguras para quem cuida.

Os testemunhos reunidos pelo PULSAR mostram que a discriminação não é acidental. Está entranhada em práticas, hábitos e silêncios. Mudar esta realidade implica assumir que existe um problema estrutural e que este problema afeta profissionais e utentes. A saúde inclusiva não se constrói apenas com boas intenções, constrói-se com formação, políticas e responsabilização.

Só assim se garante que quem cuida também recebe cuidado. Quer mantenha a sua identidade invisível ou não, cada pessoa merece um ambiente de trabalho digno. E o setor da saúde, que tantas vezes está na linha da frente da defesa da vida, não pode continuar a falhar a quem está dentro das suas próprias equipas.


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