Portugal reduz novos casos de VIH, mas continua acima da média europeia. E o diagnóstico tardio ainda pesa

Portugal reduz novos casos de VIH, mas continua acima da média europeia. E o diagnóstico tardio ainda pesa

Portugal voltou a registar menos novos casos de VIH em 2024. Foram 997 diagnósticos, abaixo da barreira dos mil pelo terceiro ano consecutivo. Este número representa uma redução de 35% na última década, segundo o relatório Infeção por VIH em Portugal – 2025.

A tendência é positiva, mas permanece um alerta claro: continuamos entre os países da União Europeia com taxas mais elevadas de novos diagnósticos.

Menos casos, mas demasiados diagnósticos tardios

Mais de metade dos diagnósticos de 2024 foram tardios e esta é uma das maiores fragilidades da resposta nacional. O relatório sublinha que 53,9% das pessoas chegaram aos cuidados de saúde numa fase avançada da infeção, uma realidade particularmente marcada nas pessoas com 50 ou mais anos e nos homens com transmissão heterossexual.

A infeciologista Bárbara Flor de Lima alertou para estas “oportunidades de diagnóstico perdidas” e reforçou a importância de ampliar a testagem, sobretudo nos grupos onde a incidência permanece alta.

Quem está a ser diagnosticado?

A maioria das novas infeções ocorreu em homens, numa proporção de 2,7 casos por cada caso em mulheres. Entre as pessoas mais jovens, 27,6% tinham menos de 30 anos. Neste grupo, destacam-se os homens que têm sexo com homens (68,7%).

Cinco diagnósticos em crianças menores de 15 anos foram registados, três deles por transmissão mãe-filho, todos diagnosticados em Portugal.

Geograficamente, a Grande Lisboa concentrou a taxa mais elevada de novos casos, seguida da Península de Setúbal e da Madeira.

Mais de metade dos diagnósticos (53,6%) foi feita em pessoas nascidas no estrangeiro. Contudo, Portugal foi identificado como país provável de contágio em grande parte dos casos, incluindo entre pessoas provenientes da América Latina.

SIDA continua acima da média europeia

Em 2024, foram registados 194 novos casos de SIDA. É um valor superior ao dos dois anos anteriores. Esta taxa é aproximadamente o triplo da média europeia. O número continua a descer de forma sustentada, mas evidencia fragilidades no diagnóstico precoce e no acesso regular aos cuidados.

Foram ainda contabilizadas 108 mortes associadas ao VIH, número estável mas ainda significativo, e que relembra que o acesso ao tratamento e a retenção nos cuidados são essenciais.

Testagem em queda e prevenção desigual

Foram realizados cerca de 68 mil testes rápidos em 2024, o que representa uma descida face ao ano anterior. As organizações comunitárias têm alertado para o impacto de recursos limitados e para a necessidade de reforçar a testagem em proximidade.

A PrEP, uma ferramenta essencial de prevenção, voltou a crescer. O aumento aconteceu tanto na dispensa hospitalar como nas farmácias comunitárias, o que demonstra o valor da descentralização. Já a profilaxia pós-exposição (PPE) beneficiou mais de 2200 pessoas, maioritariamente em contextos de risco não ocupacional.

Apesar destes avanços, a cobertura da PrEP continua desigual e ainda longe do seu potencial no território nacional, com acessos díspares entre regiões.

Portugal está perto das metas propostas, mas falta o primeiro passo

Em 2023, Portugal tinha 94% das pessoas que vivem com VIH diagnosticadas, 97,8% em tratamento e 95,9% com carga viral suprimida. Estamos muito perto das metas definidas pela ONUSIDA.

O obstáculo mais evidente continua a ser o diagnóstico precoce. Sem ele, o tratamento chega tarde, aumenta o risco de doença avançada e mantém viva a cadeia de transmissão.

O que falta fazer?

O plano para 2026-2028 define prioridades claras: reforçar a prevenção, descentralizar a PrEP, criar centros especializados em IST, melhorar a testagem e garantir cuidados de proximidade.

Outra prioridade é combater o estigma. O relatório sublinha a necessidade de garantir direitos e acesso equitativo aos serviços, sobretudo para populações vulneráveis e migrantes.

Em três décadas, Portugal acumulou 70.859 diagnósticos de VIH e 16.050 mortes relacionadas. A ciência mudou a história da infeção. O tratamento transformou-a numa condição crónica e compatível com uma vida longa. Mas os números de 2024 mostram que o combate continua e que investir na prevenção, no diagnóstico precoce e em cuidados acessíveis permanece urgente.


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