
O Natal surge todos os anos com expectativas altas e pouco espaço para falhas. Para muitas pessoas LGBTQ+, isso traduz-se em tensão, vigilância e a sensação de ter de gerir emoções alheias. Ainda assim, há formas de atravessar esta época com mais cuidado e menos desgaste.
Antes de mais, preparar é proteger. Antes dos encontros, ajuda definirmos limites internos: que temas não queremos discutir, que comentários não podemos tolerar, que perguntas não estamos dispostas a responder. Termos estas respostas pensadas com antecedência reduz a pressão no momento.
Temos uma pessoa aliada que nos possa ajudar?
Se houver alguém de confiança à mesa, combinarmos um sinal discreto ou uma desculpa partilhada para sair pode ser um apoio precioso. Também ajuda prepararmos frases curtas e objetivas que permitam encerrar a conversas sem entrar em debates exaustivos. Um simples “prefiro não falar disso agora” ou “esse comentário é descabido” é suficiente. Sempre que possível, garantirmos uma saída autónoma — transporte próprio ou plano alternativo — traz uma sensação de controlo que acalma, mesmo que nunca seja usada.
Durante o Natal, o foco deve estar no convívio em segurança, não na justiça. Nem todos os comentários precisam de resposta. A pergunta central é simples: sinto-me em segurança para falar? Se a resposta for não, protegermo-nos é prioridade.
Quando há espaço, interrompermos comentários problemáticos pode ser feito sem confronto direto, nomeando o desconforto ou marcando posição com frases curtas. As pausas são aliadas importantes. Sairmos da sala por uns minutos, ir à casa de banho ou darmos um pequeno passeio ajuda a regular emoções e evitar reações a quente. É também essencial lembrar que ninguém tem obrigação de ser educadora ou porta-voz. Se não há energia para explicar, isso é razão suficiente para não o fazer.
Há inúmeras formas de vivermos o Natal e todas são válidas quando há respeito
Quando o Natal não acontece num espaço idealizado, criarmos alternativas pode ser uma solução legítima. O Natal não acontece apenas nos dias 24 e 25, nem precisa de seguir o guião tradicional. Criarmos tradições próprias — um jantar noutro dia, um encontro com pessoas amigas, uma noite de filme ou um momento de silêncio escolhido — pode transformar esta época.
Procurarmos espaços comunitários, associações ou coletivos que promovam encontros seguros ajuda a combater a solidão e reforça o sentido de pertença. Pedirmos apoio não é sinal de fraqueza, é um gesto de cuidado.
Para pessoas aliadas, os gestos que fazem a diferença são simples, mas importantes. Usar nomes e pronomes corretos, mesmo quando outras pessoas não o fazem, é um sinal de respeito. Intervir perante comentários preconceituosos, com frases diretas e calmas, evita que a pessoa LGBTQ+ fique sozinha na defesa da sua dignidade. Perguntar como apoiar, em vez de assumir, e escutar sem julgar cria um ambiente mais seguro e humano.
Depois dos dias de Natal podemos precisar de cuidar e pensar sobre como os vivemos
Depois do Natal importa cuidarmos do que ficou no corpo e na alma. A tensão acumulada não desaparece automaticamente. Descansarmos, caminharmos, dormirmos melhor e darmos tempo ao corpo ajuda a libertar o peso emocional. Falarmos com alguém de confiança sobre o que foi difícil evita que essas experiências se cristalizem. Se necessário, procurarmos apoio profissional ou comunitário pode ser fundamental. Um Natal pesado não é um detalhe irrelevante; tem impacto real e no tempo.
Por fim, um lembrete essencial: o Natal não mede valor, não define amor e não determina pertença. Sobrevivermos a esta época já é, muitas vezes, um ato de coragem. Encontrarmos o nosso Natal – seja com convívios, famílias, ou no conforto dos nossos quartos – é essencial para vivermos melhor esta época junto de quem nos quer bem e de nós mesmas.
Boas festas.
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