Há Questões Que Não Dependem Da Cor Partidária

Nas últimas semanas têm sido apresentados, pelo Bloco de Esquerda, Partido Ecologista Os Verdes e PS, projectos de lei nas questões da adopção plena por casais de pessoas do mesmo sexo e o acesso à procriação medicamente assistida por mulheres sem necessidade de cônjuge ou unido de facto.

O PSD, partido da maioria governante em Portugal, mais uma vez, parece-se indisposto em construir uma sociedade mais justa para todos os seus cidadãos. Aliás, o deputado e líder parlamentar do PSD Luís Montenegro admitiu incluir referendo à adopção por casais gay no [próximo] programa eleitoral.

Há várias questões que se levantam com estas notícias:

  • Primeiro, tudo indica que, apesar dos esforços dos vários partidos da oposição e de associações como a ILGA-Portugal ou a Rede Ex Aequo na formação de quadros públicos (polícias, escolas, etc), as propostas serão chumbadas no próximo dia 21. Mais uma vez. Vale a pena relembrar que Portugal é neste momento o único País  que não reconheceu o direito à adopção, tendo reconhecido o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Por outras palavras, Portugal é hoje o único País em que, apesar de reconhecer legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o considera à parte dos restantes casamentos. Ou seja, o casamento hoje ainda não é verdadeiramente livre e justo em Portugal, daí a importância que estas leis sejam alteradas no sentido da igualdade plena.
  • O superior interesse da criança, sempre o superior interesse da criança… É um argumento muitas vezes dado por quem se opõe à adopção (e, já agora, co-adopção) de forma a desvirtuar a questão. É um argumento falacioso dado que o superior interesse da criança é precisamente o ponto fulcral da família que pretende adoptar e amar uma criança. Este argumento tem como objectivo apenas desumanizar as pessoas LGBT e é, acrescento, nojento!
  • A questão do referendo admitida pelo PSD não deixa de ser um insulto a todos os cidadãos porque, como será óbvio, questões de igualdade e segurança universais não podem ser referendadas, ainda para mais quando o assunto se debruça sobre um grupo específico da população. Esta manobra de distração apenas pretende lançar ruído para a discussão que a sociedade precisa ter e que, em boa verdade, tem tido nos últimos anos. São palavras que tentam retirar a estes políticos a responsabilidade da sua decisão, aquela que se opõe à criação de leis mais justas para todos.
  • Todas estas questões, e apesar do que alguns, políticos incluídos, possam dizer, são apartidárias. Não é a Esquerda que defende mais, ou menos, os direitos das pessoas LGBT, são as pessoas que procuram lutar por uma sociedade mais justa e livre de preconceitos, independentemente da sua cor partidária. Cabe a cada um de nós saber pelo que luta, em consciência das suas decisões. Dia 21, quando forem a votos estas propostas na Assembleia da República, estaremos atentos.

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Respostas de 6 a “Há Questões Que Não Dependem Da Cor Partidária”

  1. […] todos os restantes, importa também debater os temas sociais e humanos, porque, lembremo-nos, há questões que não dependem da cor partidária e são as pessoas – e não os números – que humanizam a política e a aproximam de […]

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  2. […] Que venham, portanto, mais atitudes destas, mais políticos como Justin, sem receios de perda de popularidade, mas sim com a consciência de que se toma o lado certo da História ao protegerem os cidadãos que os elegeram. Todos eles. Goste-se ou não do estilo, que venham outros deste e de outros quadrantes políticos. Porque há questões que, realmente, não dependem da cor partidária. […]

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  3. […] os direitos das pessoas LGBT em Portugal sejam defendidos por quem os representa. Afinal de contas, há questões que não dependem da cor partidária. Dito isto, não podemos ignorar posições discriminatórias que alguns candidatos a Presidente da […]

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  4. […] Por vezes no discurso mais aceso do debate político cai-se na falácia de afirmar que a defesa dos direitos das pessoas LGBT é típico da Esquerda. Negando assim à Direita qualquer mérito na luta pela igualdade da população portuguesa. Bem sei que os números não jogam a favor desta lógica, mas quero acreditar que – líderes de juventudes, presidentes da república ou até candidatos à liderança da ONU à parte – há questões que não podem depender da cor partidária. […]

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  5. […] LGBT e lutou contra a sua discriminação“, dando assim confirmação à ideia de que, sim, há questões que não dependem de cores políticas. Terminou admitindo que “temos hoje um Primeiro-Ministro que é um role […]

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  6. […] Luís Montenegro associou a orientação sexual ao abuso sexual de crianças quando era deputado do PSD em 2004. Anos mais tarde, em 2015, voltaria a opor-se à adoção de crianças por casais do mesmo género. Enquanto líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro admitiu mesmo referendar a mudança legislativa. […]

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