Big Mouth – o cartoon cujo único filtro é a honestidade

Big Mouth é um desenho animado da Netflix, estreado em 2017, que continua a quebrar barreiras, tabus, controvérsias e questões com a terceira temporada, lançada em outubro de 2019.

O enredo desta animação acompanha a viagem de um grupo de jovens pelos desafios da puberdade, com todas as suas novidades, surpresas, medos e azares. Simples e talvez até um pouco clichê, certo? Pois bem, bastam os dois primeiros minutos do episódio-piloto – cujo título é Ejaculação – para excluir a ideia deste desenho animado ser um clichê, muito menos simples. Em apenas dois minutos aborda-se a masturbação, ignorância sobre genitália, desigualdade salarial e bullying.

A honestidade bruta e sem pudores do impacto da puberdade no crescimento dos jovens é o que destaca esta série dos habituais cartoons “mais crescidos”.  Os adolescentes dizem asneiras e pensam em sexo. Os adolescentes têm medo e têm vergonha. Zangam-se, gritam, choram e apaixonam-se. Mesmo os mais introvertidos, obviamente, têm fantasias e desejos. E os mais extrovertidos, dúvidas e receios.

Além dos adolescentes – cujas personalidades são baseadas nos criadores da série –, os episódios são acompanhados pelo elo que desencadeia todas as questões da puberdade: os Monstros das Hormonas. Estes Monstros funcionam enquanto consciência da adolescência, dos impulsos e das ideias, dos medos e das vergonhas.

Cada peripécia desenvolve-se em redor de temas, muitas vezes, vistos como tabus ou talvez infestados de rumores e ignorância, e, sem hesitar, Big Mouth põe o dedo na ferida, explora o assunto, colocando todas as cartas na mesa. E goza. E ensina. Até mais do que alguns sistemas de educação sexual.

Estes temas vão desde a primeira menstruação ao orgasmo, da orientação sexual à identidade de género, do ciúme à vergonha e depressão. E, através de um humor inteligente, muitas vezes sádico e completamente satírico relativamente à sociedade (principalmente a americana), a série decorre de forma natural e ao mesmo tempo caótica, uma analogia quase perfeita à adolescência.

A série está classificada para maiores de 16 anos – apesar de qualquer jovem com mais de 12 anos perceber (e até identificar-se) com todos os assuntos abordados –, mas Big Mouth merece o seu mérito por mostrar adolescentes a questionarem-se sobre a sua orientação sexual, descobrirem a mesma e por ter um leque diverso de personagens queer.

Totally Gay, música original de Big Mouth nomeada para diversos prémios

No entanto, apesar de naturais, certos temas têm a sua sensibilidade, e Big Mouth não está isento de falhas. Na sua terceira temporada, é introduzida uma personagem – voz dada por Ali Wong – que se identifica como pansexual, e, num momento de educação sobre as definições da bi e pansexualidade (esta última por vezes sujeita a diferentes interpretações), não representam da forma mais correta a comunidade trans e bi. Conhecendo a série, este momento não é, de todo, mal intencionado e os produtores já se pronunciaram sobre o lapso, anunciando ser um tema certamente abordado numa próxima temporada. Apesar de não terem atingido o objetivo pretendido na sua plenitude, esta cena é mais um de inúmeros exemplos da forma como Big Mouth quebra tabus.

Big Mouth é uma lufada de ar fresco sobre a realidade dos jovens de qualquer época e não tem vergonha em contar a realidade tal como é, e – citando um episódio em que referem sexo anal – “se isso vos deixa desconfortáveis, apertem o cinto”, Big Mouth veio para ficar, rir e ensinar.

Nota: Texto revisto pela Ana Teresa.

Fontes: IMDB, Salon, Twitter


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