Por que o termo ‘preferência sexual’ está desatualizado e é ofensivo

Esta semana, Amy Coney Barrett, a mais recente juíza conservadora do Supremo Tribunal dos Estados Unidos e nomeada pelo Presidente Trump, utilizou o termo “preferência sexual” nas discussões em torno da discriminação LGTBI. Especificamente, afirmou que “não discriminaria com base na preferência sexual”. Barrett não é a única pessoa a empregar a antiquada expressão para descrever diferentes tipos de atração (física, romântica ou emocional); na verdade, a GLAAD (Aliança de Gays e Lésbicas contra a Difamação) tem recomendado a sua erradicação há mais de 20 anos. Esta é, aliás, uma posição que acompanha precisamente as principais organizações de medicina e psicologia mundiais que se referem à orientação sexual de um indivíduo como parte da sua identidade.

Preferência sexual” não é apenas uma antiga expressão, “é uma expressão ofensiva porque é usada por pessoas que se posicionam contra os direitos LGBTI para sugerir que ser gay, lésbica ou bissexual é uma identidade voluntária ou uma escolha e, portanto, ‘curável’ por meio de alegadas “terapias de conversão” que prejudicam fortemente pessoas LGBTI e devem por isso ser banidas”, diz Barbara Simon da GLAAD. De acordo com vários dados, mais de 700.000 pessoas LGBTI nos EUA foram submetidas a esse tipo de pseudo-terapias.

O uso do termo “preferência sexual” é, portanto, uma microagressão que espelha a realidade opressiva vivida pelas pessoas LGBTI ao mesmo tempo que põe em risco o seu bem-estar físico e mental. A expressão que deve ser usada, de acordo com GLAAD, é “orientação sexual” ou simplesmente “orientação“.

De forma a corrigir alguém que usa o termo desatualizado, Simon recomenda afirmar que “preferência sexual” não é um termo legítimo, que o termo apropriado é “orientação sexual”, um termo cientificamente correto para a atração física, romântica ou emocional duradoura de uma pessoa por membros do mesmo género ou, para o caso das pessoas heterossexuais, por membros do género oposto, reiterando que ser heterossexual também é uma orientação sexual. “Preferência sexual” é um termo impreciso, desatualizado e ofensivo.

Importa pois reter que as expressões ‘escolha sexual’ ou ‘preferência sexual’ pressupõem que existe uma opção em ter-se uma determinada orientação sexual (seja ela qual for) quando, na realidade e como parecerá óbvio, não existe um momento em que alguém ‘decide’ gostar de homens ou mulheres. Durante décadas as pessoas LGBTI foram confrontadas pelo preconceito que, também nas palavras, as remetia para uma realidade que não espelhava aquilo que nem elas nem a população heterossexual vivem.

Em pleno século XXI são poucas as desculpas para continuarmos a usar palavras que foram desacreditadas há mais de vinte anos, porque a única razão para a insistência do seu uso, não restem dúvidas, é simplesmente a ofensa homofóbica. Este é assim mais um exemplo de como as palavras têm peso e contexto e de como importa reconhecê-los e usar as mesmas em concordância com aquilo que acreditamos ser certo, apenas isso.

Imagem por Jana Sabeth.

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O DUCENTÉSIMO QUINQUAGÉSIMO PRIMEIRO EPISÓDIO do Podcast Dar Voz A esQrever 🎙️🏳️‍🌈 é apresentado por nós, Pedro Carreira e Nuno Miguel Gonçalves.Neste episódio de Dar Voz A esQrever, olhamos para a contestação inédita no Festival da Canção 2026, com a maioria das pessoas concorrentes a rejeitar a participação na Eurovisão e a criticar diretamente a posição da RTP face à permanência de Israel no concurso. Seguimos até Budapeste, onde o presidente da câmara, Gergely Karácsony, arrisca uma acusação criminal por ter permitido a Marcha do Orgulho LGBTQ+, num caso que expõe o conflito entre o poder central autoritário e a autonomia municipal. No segmento Dar Voz A…, destacamos o documentário Come See Me in the Good Light, um retrato íntimo de amor, criação e mortalidade com a pessoa não-binária e poetisa Andrea Gibson como protagonista, bem como com a sua esposa Megan Falley.Artigos Mencionados no Episódio:Festival da Canção 2026: maioria de concorrentes rejeita Eurovisão e critica posição da RTPEspanha, Irlanda, Países Baixos e Eslovénia saem da Eurovisão. Portugal mantém-se num festival cada vez mais divididoGergely Karácsony, Presidente da Câmara de Budapeste, arrisca acusação criminal por permitir a Marcha do Orgulho LGBTQO Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈 está disponível nas seguintes plataformas:👉 ⁠⁠Spotify⁠⁠ 👉 ⁠⁠Apple Podcasts⁠⁠ 👉 ⁠⁠Youtube Podcasts⁠⁠ 👉 ⁠⁠Pocket Casts⁠⁠ 👉 ⁠⁠Anchor⁠⁠ 👉 ⁠⁠RadioPublic⁠⁠ 👉 ⁠⁠Overcast⁠⁠ 👉 ⁠⁠Breaker⁠⁠ 👉 ⁠⁠Podcast Addict⁠⁠ 👉 ⁠⁠PodBean⁠⁠ 👉 ⁠⁠Castbox⁠⁠ 👉 ⁠⁠Deezer⁠⁠Se nos quiserem pagar um café, ⁠⁠⁠⁠⁠aceitamos doações aqui⁠⁠⁠⁠⁠ ❤️🦄Jingle por Hélder Baptista 🎧Para participarem e enviar perguntas que queiram ver respondidas no podcast contactem-nos via Bluesky ( ⁠⁠@esqrever.com⁠⁠ ) e Instagram ( ⁠⁠@esqrever⁠⁠ ) ou para o e-mail ⁠⁠geral@esqrever.com⁠⁠. E nudes já agora, prometemos responder a essas com prioridade máxima. Até já, unicórnios 🦄#LGBT #LGBTQ #FestivalDaCanção #Eurovisão #BudapestPride #ComeSeeMeintheGoodLight
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Respostas de 3 a “Por que o termo ‘preferência sexual’ está desatualizado e é ofensivo”

  1. […] por isso não sabemos como vamos encontrar este mundo depois dele. Falamos da nova juíza do Supremo Tribunal americano, da minoria vocal Latinos Por Trump e depois do vandalismo nas escolas e universidades de […]

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  2. […] episódio de homofobia nas autárquicas, desta feita vinda do PS, da utilização do termo ‘preferência sexual‘ e do cartaz do Queer Lisboa (do qual estamos a oferecer bilhetes duplos no nosso Instagram)! […]

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  3. […] Nas últimas décadas, muitos países alcançaram progressos notáveis no que toca à igualdade de tratamento das pessoas LGBTI+. Portugal, por exemplo, comemorou este mês 12 anos de casamento igualitário. Mas, apesar destes desenvolvimentos encorajadores, as minorias sexuais ainda vivem sob altos níveis de estigma, sendo que as origens da orientação sexual continuam a ser motivo de debate.  E isto importa porque é sabido que pessoas que entendem a orientação sexual como um produto de fatores biológicos são mais propensas a apoiar as minorias sexuais e os seus direitos, do que aquelas que a vêem como um produto de fatores sociais ou de escolha individual. […]

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