Marchar? Marchar!

Hoje não marchamos a Avenida. A única alternativa? Marchar sempre.

Mais de um ano de frustração levada ao pico por uma decisão (responsável e difícil) de última hora de cancelar a marcha, que nos deixa, pelo segundo ano consecutivo, sem aquele que é um dos momentos mais importantes da nossa luta e do nosso orgulho.

A tristeza é grande. A desilusão também. Porque marchar é essencial. A marcha do orgulho é essencial.

É essencial pela luta.

A luta pelos direitos das pessoas LGBTI. Pela igualdade, pela visibilidade, pelo respeito, pela representatividade. Pelas pessoas trans, que continuam a ser ainda as mais perseguidas, atacadas tantas vezes dentro da própria comunidade LGB, apagadas de movimentos ditos “feministas” (as TERF) que deveriam protegê-las. Lutar por todas as pessoas que rompem as fronteiras do binarismo, das convenções, dos pressupostos e da normatividade. Lutar por todas as pessoas que arriscam a vida apenas por serem. Lutar umas pelas outras, pelas nossas identidades, pela nossa sobrevivência, pelo nosso lugar. Lutar para ser livre.

É também essencial pela festa.

A festa do orgulho, da liberdade e da expressão, ir para a rua, ocupar o espaço, reconhecer-nos entre pares, entre irmãs. Celebrar as nossas diferenças, amar a nossa diversidade, festejar as nossas identidades. Não há dia mais alegre que o da marcha, mesmo em luta. O riso aberto no grito alto. A marcha é uma comunhão, é um encontro e esse é o princípio que me leva todos os anos para a rua.

Há mais de 20 anos, foi a primeira marcha que me ajudou a pôr o pé fora do armário. A marcha do orgulho foi o meu primeiro lugar. Esse lugar já é meu, esse lugar já é nosso.  Podemos não estar fisicamente hoje todas juntas, mas juntas estaremos sempre a marchar.

19 de junho de 2021, dia de marcha cancelada. 19 de junho de 2021, dia de continuar a nossa marcha. A nossa luta é sempre linda, a nossa festa é sempre justa, o nosso lugar é sempre em todo o lado. Em todas as ruas, todos os dias.

Por ana vicente

Sobre Ana Vicente Ana Vicente é uma mulher lésbica, feminista e ativista pelos direitos LGBTIQ+. Nasceu em 1977 em Lisboa, cidade que habitou a maior parte da sua vida adulta, antes de se render à vida do campo na zona Oeste. Licenciou-se em Filosofia, que equilibra ouvindo canções dos ABBA. É copywriter e estratega de comunicação na ana ana, da qual é sócia-gerente (podem adivinhar o nome da outra sócia). É voluntária da ILGA Portugal desde 2015 e colabora com outras associações e movimentos ativistas sempre que pode e/ou é convocada. Escreve há vários anos para o projeto esQrever. Escreve há vários anos. Escreve.

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