Tom Daley tornou-se ontem na primeira pessoa LGBTI a ganhar uma medalha de ouro em Tóquio. Num evento que contará com pelo menos 142 atletas orgulhosamente fora do armário, este é um feito notável. Em mais de 11 mil participantes ao mais alto nível, 142 (cerca de apenas 1,3% do total) ainda faz adivinhar um número escondido que, por uma qualquer razão, não afirmou a sua identidade.
E por isso agradeço às 142 que o fizeram e hoje em especial ao Tom Daley. Porque, como ele afirmou, é “gay e também campeão olímpico” e isso só o torna mais forte, porque, quando era jovem, Tom “sentia que nunca alcançaria nada por ser quem era.”
Tom Daley tem hoje 27 anos e estes foram os seus quartos Jogos Olímpicos. Depois das medalhas de bronze no Rio e em Londres, alcançou por fim o desejado ouro. E desde ontem, qualquer jovem gay – ou de qualquer outra orientação sexual – sabe que pode alcançar o ouro mais desejado de qualquer evento desportivo. É este o poder simples da representação no desporto. Podermos ver ícones com quem partilhamos histórias e vivências, ícones celebrados por todo o mundo em vez da vergonha que nos é muitas vezes – senão sempre nalgum momento das nossas vidas – imposta.
Mas, mais que isso, rompeu definitivamente com o vazio e, por vezes, uma certa solidão que é ser atleta LGBTI e não ver ninguém igual a si. Fui atleta federado, especializado na velocidade, e durante mais de duas décadas apenas encontrei suspeitas, olhares até, mas nunca alguém que soubesse ser LGBTI. Como eu, aliás, pois nunca me senti à vontade ou em segurança para sair do armário nos clubes que me acolheram. E, sim, houve momentos de celebração, de um gozo tremendo por aquilo que nos juntava ali: competir e superar-nos, individual e coletivamente, a cada prova. Mas como pode um ou uma atleta fazê-lo se não é verdadeiramente livre no contexto desportivo? Não foram poucas as vezes que, através de perguntas pouco cuidadas, por exemplo, me vi obrigado a fugir a temas ou, quando sem hipótese de fuga, a mentir descaradamente. Como poderiam as vitórias que obtive saberem-me genuínas se não passava de uma versão incompleta do atleta que era? Em que medida todo este contexto de alguma forma me limitou?
É por isso que agradeço a Tom Daley, mesmo sendo de uma modalidade totalmente distinta daquela que dediquei mais de 20 anos da minha vida, o espírito é o mesmo. Não poderei certamente partilhar do nível do seu talento atlético, mas aqui pouco importa, porque ele – e creio que muitas mais pessoas com ele, entre elas o nosso Célio Dias – tornou-se nestes anos de orgulhosas vitórias no ícone que precisava em miúdo, que precisava em adolescente e que preciso em adulto. Em todos esses anos em que não tive ninguém como eu a quem olhar no maior evento desportivo do mundo. E isso agora tudo muda. O orgulho é real e sabe a ouro. Obrigado, Tom Daley!
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