
Depois do conhecimento de um surto do vírus Monkeypox em Portugal e que veio a ser encontrado em outros países como em Espanha ou Bélgica, houve várias associações e entidades que vieram mostrar a sua preocupação e repúdio à forma como o assunto foi tratado por alguns orgãos de comunicação.
O secretário de Estado Adjunto da Saúde Lacerda Sales afirmou que o vírus é “uma doença de comportamentos de risco” e não de “grupos de risco”, à qual todas as pessoas estão sujeitas, e que os casos confirmados em Portugal “estão todos estáveis”.
O contágio da “varíola dos macacos”, como também é conhecida, poder ser feito pelo simples contacto direto ou exposição a partículas e, como tal, sendo potencial a toda a população. Crostas, febre e manchas no corpo e cara são alguns dos sintomas, normalmente ligeiros e tendem a desaparecer espontaneamente duas a três semanas após a infecção.
O que disseram então algumas das entidades pelo direitos das pessoas LGBTI+ em Portugal?
ILGA Portugal: Irresponsabilidade na comunicação alastra discriminação
Um dos focos da Associação ILGA Portugal foi a postura de alguns orgãos de comunicação social, relembrando que estes “têm responsabilidade acrescida na forma como tratam as notícias” quando vivemos num ambiente social e político polarizantes. Tal especial cuidado deve ser igualmente tido em conta por parte de “profissionais e autoridades de saúde na partilha de dados e informações sobre mecanismos de proteção e prevenção“.
A associação recordou que “as manchetes que fizeram associação direta do surto do vírus Monkeypox ao “início de mais uma epidemia entre os homossexuais” são científica e clinicamente falsas e eticamente reprováveis“. Reforçou também como “a orientação sexual em nada está relacionada com a Monkeypox“, e lamentou que “em pleno século XXI se continue a empurrar as pessoas LGBTI+ para contextos de estigmatização” promovendo assim o recúo dos “avanços conquistados nos últimos anos.”
Ainda assim, a ILGA Portugal felicitou a forma como muitos meios de comunicação e jornalistas “souberam tratar a informação de forma ética e responsável“, não caindo em “escolhas editoriais orientadas para o clickbait e para a partilha lucrativa de conteúdos“.
A ILGA Portugal anunciou que, com as demais organizações da sociedade civil, “estão em diálogo com a Direção-Geral da Saúde para que as normas e informações emitidas sobre este surto sejam claras e direcionadas a todas as pessoas“. Por fim, a associação reforçou que “associar um vírus a um grupo ou minoria é estar a colocar em risco não só as pessoas vítimas dessa discriminação, como toda a população.”
Associação IPA: Não voltemos aos fantasmas do passado!
A Associação IPA mostrou-se surpreendida “com declarações que correlacionam o surto da apelidada “varíola do macaco” em Portugal com a comunidade homossexual“, dado que estas “não foram proferidas por um desconhecedor em virologia, nem por um comentador utilizando o senso comum, foram sim declarações proferidas pelo Presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia” e, considerou, “seguidas por um responsável do Grupo de Ativista em Tratamento (GAT).“
Esta falsa correlação entre o Monkeypox e um grupo minoritário tem sido usada como arma de arremesso à comunidade LGBT+ e tem fundamentado novos ataques de ódio, num momento que relembra outros “fantasmas do passado, em que havia por parte da comunidade medico-científica e por parte da sociedade a criação da ideia de que o VIH e a SIDA eram “doenças gays”“. Importa, por isso, esclarecimento sobre a transmissão do vírus, “Para que não fiques com macaquinhos no sotão!“
A associação de Torres Vedras considerou alarmista e precoce “proferir qualquer tipo de declarações” que incentivem à discriminação por orientação sexual, promovendo assim também “uma crescente onda de crimes de ódio“.
Neste sentido a IPA – Associação para a Promoção da Igualdade repudiou as declarações mencionadas e apelou à DGS – Direção-Geral da Saúde, ao Instituto Ricardo Jorge e ao Ministério da Saúde “uma postura de seriedade e a prática de uma comunicação esclarecedora e rigorosa que não comprometa a segurança da comunidade LGBT+“.
Grupo de Apoio a Pessoas Queer: Carta de Repúdio
Através de uma carta de repúdio, o Grupo de Apoio a Pessoas Queer considera vergonhosa e uma difamação a caracterização do Monkeypox como uma “epidemia entre homosexuais”, relembrando que a doença “não escolhe géneros nem orientações sexuais“. A disseminação de ideias preconceituosas contra a população LGBTI levam à sua discriminação, considerou o grupo vimaranense.
O grupo exigiu assim um sistema de saúde com respostas devidas à população LGBTI e, igualmente importante, não LGBTfóbico, uma vez que “num estado democrático e livre não se pode continuar a permitir o discurso de ódio e a divulgação de fake news“, rematando que “ser LGBTI não é ser doente.“

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