
Hoje marca um momento histórico para a Tailândia e para a comunidade LGBTQ+ de todo o mundo. O país tornou-se oficialmente no primeiro do Sudeste Asiático a celebrar casamentos entre pessoas do mesmo sexo, abrindo portas para uma nova era de inclusão e igualdade na região.
Depois de décadas de ativismo, 878 escritórios distritais em toda a Tailândia abriram as suas portas esta manhã para casais do mesmo sexo registarem e celebrarem o seu casamento. Eventos massivos estão a acontecer de norte a sul, incluindo uma cerimónia com mais de 300 casais em Banguecoque. Além de festividades como discursos do governo, performances de drag queens e exposições, estes casamentos simbolizam o culminar de uma luta de décadas por igualdade de direitos.
Para Tawach, de 32 anos, que vai casar com Thanakorn, de 36 anos, este dia significa mais do que direitos legais, como herança e adoção, é um dia de aceitação. “Vai inspirar as gerações mais jovens a serem mais confiantes e a expressarem-se”, confessou ao The Guardian.
Uma mudança cultural e política na Tailândia
A Tailândia tem uma comunidade LGBTQ+ vibrante, conhecida mundialmente pela visibilidade cultural, incluindo os populares dramas boys’ love. Contudo, alcançar o casamento igualitário não foi fácil. Décadas de estigma alimentado pelos média e instabilidade política – incluindo dois golpes militares – atrasaram o progresso.
A mudança veio com a ascensão de novos movimentos pró-democracia em 2020, que trouxeram reforma política e igualdade de género. A chegada ao poder de Srettha Thavisin em 2023, seguido pela atual Primeira Ministra Paetongtarn Shinawatra, foi também determinante na implementação das leis aprovadas em junho de 2024.
A Tailândia junta-se agora a Taiwan e ao Nepal como os únicos países asiáticos a reconhecerem o casamento igualitário. O contraste é marcante com vizinhos como Malásia, Myanmar, ou a província de Aceh na Indonésia, onde relações entre pessoas do mesmo sexo continuam criminalizadas.
A história de Ruchaya e de Nuttimon

Ruchaya Nillakan, de 45 anos, também está entre as centenas de pessoas que hoje se casam. Ela nunca pensou que este dia chegaria. Aos 16 anos, a sua família disse-lhe que, se ela quisesse ter uma namorada, deveria sair de casa. Ainda adolescente, acabou por ir morar na casa da sua então namorada, mas a sua mãe ligava-lhe todos os dias a pedir que regressasse. Ela sentiu-se culpada e, eventualmente, a relação acabou.
“Sempre achei errado [ser lésbica], que era algo ruim. [Pensei] OK, vou tornar-me uma mulher normal casada com um homem”, disse. Ela casou-se, mas os seus três casamentos anteriores terminaram em divórcio. Até que conheceu a sua parceira Nuttimon Sanyamast, de 46 anos, em 2023 e apaixonaram-se. O casal decidiu parar de se preocupar com as expectativas da sociedade. “Estou tão orgulhosa, atordoada até. Não percebi que chegaria este dia e teria a oportunidade de estar com alguém com quem eu quero estar”, confessou.
A família de Ruchaya apoia, por fim, o casamento entre Ruchaya e Nuttimon. Como tal, é hora de comemorar. “Estamos orgulhosas de sermos tailandesas LGBTQ+”, disse Ruchaya.

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