
A tão aguardada segunda temporada de The Last of Us estreou com um momento poderoso: Ellie e Dina beijam-se. A cena é bela, íntima e, para quem jogou The Last of Us Part II, imediatamente reconhecível. Não só pela fidelidade ao jogo, mas pela forma como traduz para o ecrã a coragem e ternura da relação entre as duas.
The Last of Us passa-se num mundo devastado por uma pandemia provocada por uma mutação do fungo Cordyceps, que transforma pessoas em criaturas violentas e contagiosas. Ellie é especial: é imune. O seu corpo impede o fungo de se desenvolver, o que a torna central na procura por uma cura — e é isso que move toda a história da série e do jogo.
Mas há mais do que apocalipse nesta narrativa. A adaptação HBO não teve receio de manter uma das cenas mais marcantes do jogo: o beijo entre Ellie e Dina. Num mundo onde a humanidade resiste, também o preconceito sobrevive — e é precisamente por isso que este beijo importa. Porque, mesmo ali, mesmo depois do colapso da civilização, a homofobia continua a tentar impor silêncio e vergonha.
Um beijo que hoje, mais que nunca, importa ser visto

Quando Dina e Ellie dançam juntas, há tensão, desejo, mas também medo — algo que Bella Ramsey, que interpreta Ellie, explicou bem: “Ela pensa que a Dina é hetero. Está cheia de medo de estragar uma amizade que lhe é muito importante.” Este tipo de representação — vulnerável, honesta, humana — não é só visibilidade, é validação.
A cena ganha ainda mais impacto quando um homem mais velho interrompe o momento com insultos lesbofóbicos: “Estamos numa igreja, fufas!” Joel, interpretado por Pedro Pascal, reage com violência para as defender, mas Ellie não precisa de salvação. Precisa de respeito, de espaço para existir e amar.
A segunda temporada de The Last Of Us não se retrai na história LGBTQ+
A primeira temporada já nos tinha dado um episódio memorável com Bill e Frank, dois homens de meia-idade a apaixonar-se. Foi um dos momentos mais aclamados da série — e também um dos mais atacados online. Mas como dizia a série: é exatamente o mesmo amor.
Também Bella Ramsey disse na altura numa entrevista: “A narrativa queer faz parte da história. Habituem-se.” E tem razão. Especialmente hoje, quando vemos retrocessos nas políticas de diversidade, com universidades pressionadas a cancelar programas de inclusão, ou governos que ameaçam abertamente os direitos humanos das pessoas LGBTQ+.
Num momento em que forças conservadoras e de extrema-direita procuram apagar a existência das pessoas LGBTQ+, cada beijo conta. Especialmente quando é partilhado por duas jovens que, no meio do fim do mundo, escolhem o amor. Isso é resistência. E é também um lembrete: o futuro não tem que ser cinzento — pode, e deve, ser queer.

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