
J.K Rowling anuncia fundo privado para atacar direitos de pessoas trans, enquanto críticas se multiplicam — inclusive de figuras públicas como Pedro Pascal.
Nos últimos anos, o Reino Unido tem assistido a uma crescente ofensiva contra os direitos das pessoas trans, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento legal do género e ao acesso a espaços seguros. Esta ofensiva tem contado com o apoio de setores conservadores e grupos feministas ditos “críticos de género”, que rejeitam a autodeterminação de género e promovem uma definição restritiva de “mulher”, baseada apenas no sexo biológico.
O Supremo Tribunal britânico deu um passo nesse sentido ao decidir que mulheres trans não são legalmente consideradas mulheres ao abrigo do Equality Act, lei que desde 2010 protege contra discriminação com base em características como género e orientação sexual. Esta decisão, aplaudida por movimentos anti-trans, abriu espaço para novas exclusões e retrocessos nos direitos conquistados ao longo de décadas de ativismo.
O fundo de Rowling irá apoiar direitos “baseados no sexo”
É neste contexto que J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter, anunciou a criação do JK Rowling Women’s Fund, uma organização que utilizará a sua fortuna pessoal — estimada em mais de mil milhões de dólares — para financiar ações legais contra os direitos das pessoas trans “no local de trabalho, na vida pública e em espaços protegidos para mulheres“. O fundo, segundo o seu site oficial, apoia indivíduos e organizações que lutem por manter os chamados “direitos baseados no sexo”.
No anúncio feito na rede X , Rowling justificou a escolha por um fundo privado como a forma mais “eficiente” de avançar com este projeto. Afirmou que lhe foram oferecidas muitas doações, mas preferia que esse dinheiro fosse entregue a outras organizações com a mesma agenda. Na prática, trata-se de um reforço do seu papel central na cruzada contra os direitos trans, agora com estrutura formalizada e financiamento direto.
Esta não é a primeira vez que Rowling financia movimentos anti-trans. Em 2024, doou cerca de 88 mil dólares à organização For Women Scotland, após esta perder um processo legal relativo à inclusão de mulheres trans numa lei escocesa de 2018. A organização recorreu ao Supremo Tribunal — o mesmo que viria a excluir as mulheres trans do conceito legal de “mulher”.
“Adoro quando um plano se concretiza”
Após a decisão, Rowling publicou uma foto sua a fumar um charuto e a beber, com a legenda: “I love it when a plan comes together” (“Adoro quando um plano se concretiza”). A publicação gerou indignação, incluindo por parte de figuras públicas. Pedro Pascal, ator das séries The Mandalorian e The Last of Us, respondeu diretamente, descrevendo a atitude como “vilania à Voldemort” e apelidando a autora de “heinous loser” (“falhada hediondo”).
O ator, irmão de Lux Pascal, mulher trans, foi claro: “Não comprem mais nada de Harry Potter. Está na hora de dizer a estas empresas que a transfobia dá prejuízo.”
Além de Pascal, também parte do elenco original dos filmes se posicionou contra o discurso de ódio de Rowling.
Fãs do mundo Harry Potter sentem traição pela sua autora
Para muitas pessoas que cresceram com os livros e filmes de Harry Potter, esta viragem transfóbica representa uma traição profunda. A autora, que antes inspirava com histórias de resistência e empatia, tornou-se nos últimos anos símbolo de uma cruzada contra os direitos de uma das comunidades mais vulneráveis da sociedade.
A HBO anunciou que está a produzir uma nova série sobre o mundo Harry Potter e contará com J.K. Rowling como produtora executiva.

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