Marinha dos EUA apaga nome de ícone gay Harvey Milk: mais um ataque à memória e à diversidade

Marinha dos EUA apaga nome de ícone gay Harvey Milk: um ataque à memória e à diversidade

Num claro sinal do desmantelamento das políticas de diversidade, a Marinha dos Estados Unidos anunciou que irá remover o nome do ativista gay Harvey Milk de um dos seus navios. A decisão surge sob orientação do atual secretário da Defesa, Pete Hegseth, conhecido pelas suas posições ultraconservadoras e pela ofensiva contra iniciativas de inclusão no seio das Forças Armadas.

O USNS Harvey Milk foi batizado em 2021, integrando uma nova geração de petroleiros da classe John Lewis, nomeados em homenagem a figuras centrais dos direitos civis nos EUA. Milk, que serviu como oficial de mergulho durante a Guerra da Coreia, foi posteriormente eleito para o conselho de supervisores de São Francisco, tornando-se uma das primeiras pessoas abertamente homossexuais a conquistar um cargo político nos EUA. Foi assassinado em 1978, enquanto exercia funções.

Harvey Milk pode ter sido uma primeira vítima deste apagamento histórico, outros seguirão

Harvey Milk homenageado pela Marinha dos EUA em 2021.
Harvey Milk homenageado pela Marinha dos EUA em 2021.

A medida de retirar o nome do navio surge em pleno Mês do Orgulho LGBTI+ e poderá ser apenas o início: outros navios da mesma classe — com nomes de líderes como John Lewis ou Robert F. Kennedy — também estão sob análise.

O porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, justificou a medida com a necessidade de “refletir as prioridades do comandante das Forças Armadas”. Mas os sinais são claros: desde que assumiu funções, Hegseth acabou com os programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), baniu celebrações como o Mês da História Negra e censurou livros de figuras como Maya Angelou nas academias militares.

Até a icónica Bea Arthur foi apagada do Departamento de Defesa dos EUA. O absurdo destes apagamentos do Pentágono inclui uma fotografia do bombardeiro Enola Gay e de outras pessoas militares com nome de família Gay.

A oposição a esta política é feroz. Chuck Schumer, líder democrata no Senado, classificou a mudança como “repugnante” e “discriminação flagrante”. “Hegseth deveria ter vergonha na cara e reverter a situação imediatamente”, escreveu na rede X.

Por que importa continuar a dizer o nome de Harvey Milk

Harvey Milk não foi apenas um político. Foi um símbolo de coragem, um rosto visível num tempo de invisibilidade, um farol para uma comunidade historicamente silenciada. Como veterano da Marinha, Milk conhecia bem o que significava servir um país que, na época, não reconhecia a sua dignidade enquanto homem gay.

Na política, defendeu políticas progressistas, lutou contra a discriminação e acreditava no poder da visibilidade. O seu legado sobrevive não só nos direitos conquistados desde então, mas também nas histórias que inspirou — e nas tentativas constantes de silenciar esses avanços.

Retirar o seu nome de um navio militar não é apenas uma ação simbólica. É uma tentativa deliberada de apagar a contribuição de pessoas LGBTI+ da história dos EUA. É reescrever uma narrativa onde só cabem alguns nomes — e excluir todos os outros.



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Uma resposta a “Marinha dos EUA apaga nome de ícone gay Harvey Milk: mais um ataque à memória e à diversidade”

  1. […] Mas nem todas as reações foram positivas. O Pentágono condenou publicamente a produção, classificando-a como “lixo woke” e rejeitando qualquer associação à história. A declaração veio do porta-voz Kingsley Wilson, que acusou a Netflix de “alimentar uma agenda ideológica” e elogiou a “restauração da ética guerreira” sob a liderança do atual secretário da Defesa, Pete Hegseth — conhecido por políticas que visam apagar a presença de pessoas LGBTQ+ nas forças armadas. […]

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