O que nos excita? Pornografia gay, equilíbrio de género e motivações femininas

Os dados divulgados pelo maior site pornográfico do mundo, o Pornhub, revelam algo inesperado — ou, talvez, cada vez mais revelador: o consumo de pornografia gay tem hoje uma audiência quase equilibrada em termos de género. Em 2025, 53% das visualizações foram feitas por homens e 47% por mulheres. Estas viram, inclusive, um crescimento de quatro pontos percentuais face ao ano anterior.

Este aparente equilíbrio tem vindo a ser estudado ao longo dos anos, com investigações que ajudam a perceber por que razão tantas mulheres escolhem ver pornografia gay. A investigadora Lucy Neville, por exemplo, analisou as respostas de mais de 500 mulheres que consomem pornografia gay e concluiu que, para algumas, especialmente sobreviventes de violência sexual, este tipo de conteúdo é o único que não desencadeia gatilhos traumáticos. Outras apontam simplesmente o prazer visual: gostam de ver homens nus, sem que exista uma representação sexual centrada num olhar masculino ou dominador sobre o corpo feminino.

Estas motivações podem também explicar o crescimento da categoria Solo Male (homem a masturbar-se), muitas vezes protagonizada por atores gays, que tem atraído maioritariamente o público feminino.

Pornografia gay no mundo: entre twinks, daddies e diversidade

Se olharmos para os gostos geográficos, há variações curiosas. Nos Estados Unidos, destaca-se a popularidade de atores negros, enquanto no Canadá e Brasil a categoria Big Dick foi a mais vista.

Já a Europa é dominada pela categoria Twinks (homens jovens e magros), mas também há espaço para diversidade: Irlanda preferiu Daddy, Alemanha procurou Uncut (não circuncidado), e Itália destacou-se pela procura de vídeos com Blowjobs (sexo oral).

Em Portugal, gostos e tendências

No caso português, e tal como na Itália, a categoria mais vista de pornografia gay foi a de Blowjob, o que se alinha com uma tendência mediterrânica, também visível em Itália. O dado pode parecer banal, mas mostra que mesmo num espaço digital muitas vezes globalizado, os desejos locais e padrões mantêm-se bem presentes.

Em termos etários, o grupo dos 18 aos 24 anos representa a maior fatia das visualizações (27%). Mas é na faixa dos 65+ que encontramos a maior propensão relativa para consumir pornografia gay — são 39% mais propensas a visualizá-la que os outros grupos. Um sinal de que o desejo e a curiosidade não têm prazo de validade e que uma eventual dificuldade no acesso a estes conteúdos noutros tempos provoque um interesse extra mais tardio na vida destas pessoas.

Um olhar para além do ecrã

O que este retrato de 2025 nos mostra é que a pornografia, longe de ser um espelho unidimensional da sexualidade — e muitas vezes associada à exploração — pode ser também um espaço onde se procuram seguranças, se evitam traumas, se exploram desejos e se encontram representações não-normativas. É um tipo de conteúdo que, sem moralizações bacocas, pode — e deve — ser criado com preocupações pelo bem-estar de todas as pessoas envolvidas, diante e atrás das câmaras.

A procura de conteúdos gay por mulheres e pessoas mais velhas desmonta estereótipos e abre a porta a conversas mais honestas sobre o que nos excita, porquê, e como o digital se tornou um espelho — às vezes incómodo, mas sempre revelador — da nossa diversidade sexual.



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