
“Um pouco de respeito”, cantavam os Erasure em 1988 — e para muitas pessoas queer, foi mais do que um pedido: foi um grito de afirmação.
Andy Bell, a voz dessa canção e de tantos outros hinos pop, nunca pediu licença para ser quem era. Desde os anos 80, fez da visibilidade uma bandeira e da pista de dança um espaço de libertação. Quarenta anos depois, é reconhecido como ícone queer e continua a inspirar com o mesmo brilho com que subiu ao palco pela primeira vez.
Quando surgiu com os Erasure em 1985, em plena era Thatcher e sob o peso do infame Section 28, Bell fê-lo com brilho, sem filtros e com uma certeza: seria um homem gay visível, orgulhoso e sem concessões. Essa escolha, aparentemente simples, foi radical — e mudou vidas.
“Desde a primeira entrevista disse que era gay e que tinha namorado. E pronto, foi isso”, recorda Andy Bell numa entrevista à Attitude, depois de receber o prémio Pride ICON 2025. Palavras que, décadas depois, continuam a ressoar com força, sobretudo para quem cresceu a ouvir hinos como A Little Respect ou Chains of Love — músicas pop que, com letras descaradamente queer, ajudaram a escrever o imaginário de gerações.
Andy Bell fez da sua visibilidade revolução
Nos anos 1980 e 90, quando a maioria de artistas queer ainda escondia a sua identidade por medo ou imposição das editoras, Bell foi contracorrente. Em palco, encarnava a liberdade com corsets, saltos altos e muita atitude camp — uma resposta direta à crítica homofóbica que ouvia: “Se me diziam para abrandar o tom, eu exagerava ainda mais”, diz. Essa ousadia não era só estética; era política.
Bell não procurou ser ativista no sentido tradicional, mas compreendeu sempre o poder transformador da visibilidade: “O simples facto de ser visível, para mim, já é ser ativista.” Essa postura foi particularmente importante num Reino Unido e numa restante Europa onde a homofobia era alimentada por tabloides e legitimada por leis que silenciavam identidades queer.
Sobrevivência, espiritualidade e novos começos
Em 1998, Andy Bell foi diagnosticado com VIH. Só anos depois partilhou o diagnóstico publicamente, num momento de coragem em que o medo deu lugar à partilha. “Foi do tipo: ou fazia algo, ou morria.” Quando regressou ao palco, não sabia o que esperar. O público respondeu com uma ovação de pé — uma imagem que ainda hoje guarda com emoção.
Hoje, com Ten Crowns, o seu mais recente álbum a solo, Andy mistura espiritualidade e pistas de dança. “A espiritualidade para mim está na natureza, em como nos relacionamos com as outras pessoas. Se é consensual e não magoa ninguém, vive a tua vida.”
O disco é também uma homenagem à educação que recebeu nos clubes queer londrinos. “Foi nas pistas de dança que aprendi tudo: a ver drag queens, a observar como interagiam com o público.” Esse espírito de comunhão e descoberta continua a ser o seu guia.
Os Erasure são exemplo perfeito de música como refúgio e libertação
Ao lado de Vince Clarke, com quem formou os Erasure, Bell deu voz a alguns dos maiores hinos queer da música pop. Canções como A Little Respect, Sometimes e Always são muito mais do que sucessos radiofónicos: tornaram-se bandeiras de orgulho, resistência e amor próprio.
Em tempos de opressão, essas músicas tornaram-se porto seguro para muitas pessoas queer que se viam, pela primeira vez, representadas sem vergonha.
“Quando vou para casa, estou num bar com o meu pai e as minhas irmãs e, de repente, aparece um tipo heterossexual, grande e musculado, põe os braços à minha volta e diz: ‘Adoro-te, amigo’“, recorda.
A pista de dança, para Andy, foi sempre um espaço de libertação — onde os corpos se exprimem sem medo e onde a diferença é celebrada. Quarenta anos depois, continua a fazer da música um convite à autenticidade, ao amor e à festa.
“Para mim, fazer música é isso mesmo. Fazer com que as pessoas destas pequenas cidades possam ser elas próprias“.
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