
O futebol masculino francês continua a enfrentar o peso de uma homofobia estrutural nas bancadas. No passado domingo, Jonathan Clauss, capitão do Nice e internacional francês, deu um passo raro ao confrontar diretamente apoiantes do seu clube depois de cânticos homofóbicos terem interrompido por duas vezes durante o jogo frente ao Paris FC.
No jogo em causa, ouviu-se repetidamente a expressão “Les Parisiens c’est des pédés!” (“Os parisienses são paneleiros!”).
O árbitro Abdelatif Kherradji parou o jogo aos 83 minutos, seguindo o protocolo, e anunciou que a partida poderia ser abandonada caso os cânticos continuassem. Pouco depois, os insultos voltaram a ouvir-se. Foi então que Jonathan Clauss, visivelmente incomodado, dirigiu-se à claque do Nice para lhes exigir que parassem.
O gesto do capitão não só foi simbólico como acabou por ter consequências imediatas em campo: o Nice perdeu a vantagem, sofrendo um penálti convertido por Jean-Philippe Krasso, terminando o jogo empatado 1-1.
Em declarações após a partida, Clauss deixou clara a sua posição:
“Há coisas que não devem ser ouvidas num estádio de futebol, nem sequer na sociedade. Estamos felizes com o apoio de adeptos todas as semanas, mas estas mensagens? Não.”
Jonathan Clauss é um aliado da comunidade LGBTQ+
Não é a primeira vez que o defesa de 33 anos se posiciona a favor da inclusão LGBTQ+ no futebol. Em maio, já tinha falado publicamente sobre a importância de combater a discriminação. Mas, desta vez, a atitude foi mais longe: Clauss assumiu a responsabilidade de ser capitão dentro e fora de campo.
Apesar da sua intervenção, o problema está longe de resolvido. Grupos como o Rouge Direct, um coletivo contra a homofobia no futebol, exigem punições mais severas da federação e do governo francês, lembrando que multas ou encerramentos parciais de bancadas têm-se revelado insuficientes. Num comunicado, escreveram: “Chega. É hora de agir com firmeza. Não pode continuar assim.”
A realidade é que o futebol masculino em França lidera, segundo estudos, os índices de homofobia entre as principais ligas europeias. Os protocolos raramente chegam ao ponto de levar equipas a abandonar o relvado — algo que, por exemplo, aconteceu em 2020, quando os San Diego Loyal FC decidiram sair de campo em solidariedade com Collin Martin, jogador abertamente gay.
O gesto de Jonathan Clauss mostra que há jogadores dispostos a enfrentar a cultura discriminatória enraizada nas bancadas. Mas a grande questão permanece: quantos capitães terão a coragem de ir ainda mais longe e transformar gestos individuais em mudança coletiva? Continuamos à espera dessa transformação estrutural nos relvados masculinos.
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