Pensar fora do regime: Monique Wittig regressa com Pensamento Straight e outros ensaios

Pensar fora do regime: Monique Wittig regressa com Pensamento Straight e outros ensaios

“A sociedade heterossexual baseia-se na necessidade do diferente/outro em todos os níveis. (…) Mas o que é o diferente/outro senão o dominado?” — Monique Wittig.

A Orfeu Negro acaba de lançar Pensamento Straight e outros ensaios, a coletânea que reúne os textos teóricos e políticos mais influentes da escritora e filósofa francesa Monique Wittig, publicados entre 1976 e 1990. Figura central do feminismo materialista, Wittig defendeu que a heterossexualidade não é uma simples orientação sexual, mas um regime político que estrutura a sociedade e legitima a dominação masculina.

O livro, traduzido por Eugénia Antunes e com prefácio de Louise Turcotte, propõe uma leitura radical das categorias de sexo e género, desafiando o feminismo da época e antecipando muitos dos debates que hoje atravessam o pensamento queer. Para Wittig, a lésbica representa uma rutura, um ponto de fuga no “pensamento straight”, capaz de expor o carácter político e não natural da diferença entre os sexos.

No prefácio, Turcotte recorda o impacto de Wittig na conferência da Modern Languages Association em 1978, quando a autora afirmou: as lésbicas não são mulheres. O silêncio que se seguiu, escreve, marcou um antes e um depois no Movimento de Libertação das Mulheres: “o chocante ponto de vista de Wittig era inimaginável à época. Uma página da história tinha sido virada.

Essa viragem traduziu-se na formulação de um lesbianismo radical, que via a heterossexualidade como uma estrutura de poder a derrubar. Para Wittig, não se tratava de substituir a categoria “mulher” por “lésbica”, mas de abolir o próprio sistema que as cria como oposições políticas. “Nós, lésbicas, somos escravas fugidas da nossa classe”, escreveu em Ninguém Nasce Mulher, um dos ensaios agora recuperados.

Com esta edição, a Orfeu Negro traz de volta uma autora cuja influência atravessa gerações de pensadoras feministas e queer, entre elas Judith Butler e Virginie Despentes. Ao reexaminar conceitos como diferença, género e universalidade, Wittig desafia-nos a questionar os alicerces do pensamento dominante — e a imaginar o mundo para além dele.

O livro Pensamento Straight e outros ensaios está disponível nas livrarias e em orfeunegro.org.


Monique Wittig (1935–2003) foi escritora, filósofa e ativista feminista. Publicou L’Opoponax (1964), vencedor do Prémio Médicis, e As Guerrilheiras (1969), recentemente reeditado pela Antígona. Participou no Movimento de Libertação das Mulheres e foi uma das tradutoras das Novas Cartas Portuguesas em 1974. Mudou-se para os Estados Unidos em 1976, onde lecionou nas universidades de Nova Iorque, Berkeley e Duke.


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