“A lista de pessoas que conheci, amei e perdi é longa”: Madonna condena Trump por apagar o Dia Mundial de Luta contra a SIDA

“A lista de pessoas que conheci, amei e perdi é longa”: Madonna condena Trump por apagar o Dia Mundial de Luta contra a SIDA

A nova crítica de Madonna à decisão da administração Trump de apagar o Dia Mundial de Luta Contra a SIDA reacende uma luta que acompanha toda a sua carreira. A artista denunciou a medida como “ridícula, absurda e impensável”, lembrando que “a lista de pessoas que conheci, amei e perdi é longa”.

O impacto das suas palavras ganha peso porque o seu apoio às pessoas que vivem com VIH e à comunidade LGBTQIA+ não é recente. Surge desde os primeiros anos da epidemia, quando o estigma dominava, a desinformação reinava e poucas figuras públicas se atreviam a levantar a voz. Madonna, por seu lado, levantou-a e nunca mais a baixou.

A crítica surgiu após notícias de que o Departamento de Estado instruíra equipas e entidades financiadas por fundos federais a não realizarem qualquer atividade ligada à data. A decisão seguia uma nova orientação interna para “evitar mensagens sobre quaisquer dias comemorativos”.

Para Madonna, este apagamento federal vai muito além de uma decisão burocrática. Representa um retrocesso histórico. “Durante quatro décadas, este dia tem sido reconhecido internacionalmente por pessoas de todas as origens”, escreveu na sua publicação. “Milhões de vidas foram tocadas pela crise do VIH.”

A artista sublinhou ainda a perda de inúmeras pessoas queridas. “A lista de pessoas que conheci, amei e perdi é longa”, afirmou. E deixou uma reflexão devastadora dirigida a Trump: “Aposto que ele nunca viu o melhor amigo morrer de SIDA, segurou a sua mão, viu o sangue desaparecer do rosto aos 23 anos.”

A voz que não se cala desde os anos 1980

A crítica pública de Madonna não surge do nada. A sua relação com a crise do VIH/SIDA começa no início da sua carreira. A artista chegou a Nova Iorque em 1978 e mergulhou na cultura queer que marcava a cidade. Estava lá quando os primeiros casos começaram a surgir, quando a crise era tratada com silêncio, estigma e desinformação.

Madonna viveu o impacto de perto. Perdeu amigos queridos, como o artista Martin Burgoyne, seu melhor amigo e ex-colega de apartamento, que morreu em 1986 aos 23 anos.

Perdeu também o seu professor e mentor de dança, Christopher Flynn, três anos depois. Estas perdas moldaram a sua visão e a sua urgência.

Desde 1987 que nos seus concertos distribuía panfletos sobre prevenção quando poucos nomes se atreviam a fazê-lo. Na imprensa, denunciava a desinformação e o preconceito.

Em 1989, quebrou um tabu global ao incluir um folheto educativo sobre SIDA dentro do álbum Like a Prayer.

O folheto explicava como o vírus se transmitia, pedia empatia e afirmava: “As pessoas com SIDA merecem compaixão e apoio, não violência e intolerância.”

Este gesto teve impacto mundial. Especialistas recordam que Madonna fez o que a comunicação social e vários governos não fizeram na época: informação clara, simples e empática num momento de pânico moral.

quando educar se torna resistência

A sua ação não se limitou à informação. Madonna canalizou parte da sua influência para a angariação de fundos e para a visibilidade das pessoas a viver com VIH. A participação em eventos da amfAR (Fundação para a Investigação do VIH/SIDA), bem como a defesa pública do uso de preservativos e a recusa em afastar-se das comunidades queer foram decisivas.

Em 1991, quando recebeu o Prémio de Coragem da amfAR, respondeu aos rumores de que seria seropositiva com uma frase que permanece relevante: “Eu não sou seropositiva, mas e se fosse? Teria mais medo de como a sociedade me trataria do que da própria doença.

Nos anos 90, quando o mundo recuava para o medo, Madonna lançava Erotica e falava abertamente sobre sexualidade. A artista contrariou a onda conservadora criada pela epidemia. Recusou associar sexo a culpa e insistiu na educação sexual como ferramenta de autonomia e de cuidado.

Quatro décadas depois, a memória continua

Em 2023, durante a Celebration Tour, Madonna voltou a lembrar as vidas perdidas. A performance de “Live to Tell” transformou o palco num memorial, com fotografias de pessoas mortas pelo VIH/SIDA, incluindo Christopher Flynn e Herb Ritts. A articulação com o AIDS Memorial reforçou a dimensão histórica do momento.

A artista nunca deixou esta luta para trás. A crítica recente a Trump inscreve-se nesta história. A decisão de apagar o Dia Mundial de Luta Contra a SIDA não é apenas um ataque à memória coletiva. É também um ataque à dignidade de milhões de pessoas afetadas pelo VIH no mundo.

Madonna recusa esse apagamento. “Vou continuar a honrar este dia”, escreveu. O apelo é simples: recordar quem partiu, apoiar quem vive com VIH e lutar contra políticas que alimentam estigma e desinformação.

Um gesto político com impacto global, mas que não pode parar os avanços conquistados na luta contra o VIH

A decisão do governo dos Estados Unidos surge num momento em que vários países reforçam compromissos com a prevenção. Há grandes avanços ligados à PrEP, ao tratamento e ao diagnóstico precoce. E há exemplos inspiradores, como a redução de 95% de novos casos nos Países Baixos. Ao mesmo tempo, cresce o conservadorismo que tenta recuar direitos e silenciar memórias.

Madonna não aceita essa tentativa de reescrita. A sua crítica é, acima de tudo, um alerta. O combate ao VIH/SIDA não está terminado quando o estigma continua nos dias de hoje. Milhões de pessoas continuam a depender de políticas públicas informadas e de narrativas que tratem esta história com rigor e humanidade.

Apagar a memória deste dia é mais do que uma decisão política. É uma escolha que põe vidas em risco. E Madonna escolhe lembrar. Escolhe agir. E pede que façamos o mesmo.


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