
A emissão de Sex Symbols – Transgénero na RTP2 continua no centro do debate político. O Governo lamentou “profundamente” a transmissão do episódio, emitido a 16 de novembro, após um voto de protesto apresentado pelo CDS. Paulo Núncio descreveu o conteúdo como “propaganda de ideologia de género” e disse que “chocou e indignou muitas famílias”. Luís Montenegro subscreveu “na íntegra” estas críticas. E reforçou a intenção de afastar temas de género das escolas e da televisão pública.
Mas muitas famílias não se reconheceram neste discurso. A AMPLOS, associação de mães e pais pela liberdade de orientação sexual e identidade de género, partilhou duas mensagens enviadas à provedora da RTP. São dois testemunhos firmes, emocionados e diretos. São também um contraponto aos discursos de medo que dominaram o debate.
O que é o programa Sex Symbols?

Sex Symbols é uma série de animação da RTP2. Mostra quatro crianças amigas que entram na pré-adolescência e que começam a sentir as primeiras mudanças no corpo. O objetivo é simples: falar de educação sexual e emocional de forma leve, rigorosa e acessível. No episódio contestado, Lúcia conta ao primo Hugo e ao amigo Max: “Não sou transformer, embora não fosse nada mau! Sou transgénero.”
É uma história curta. Fala de identidade. Fala de amizade. Fala de respeito. E pode ser visto na RTP Play.
“A ignorância cria medo mas a informação cria amor”
A primeira mensagem é de Dina Sousa, mãe da AMPLOS. Dina começa por dizer: “Escrevo com profunda emoção para agradecer o episódio do programa ‘Sex Symbols’ dedicado à identidade de género, apresentado de forma tão clara e sensível.”
Conta como este episódio teria mudado o seu próprio caminho enquanto mãe: “Se eu tivesse tido acesso a um conteúdo assim quando o meu filho me disse que é trans, tudo teria sido mais natural, mais leve e o meu apoio teria sido imediato.” Explica que teve de aprender tudo “à pressa, com medo de falhar”. E reconhece que “um programa como este teria sido uma mais valia no momento certo”.
Sublinha ainda a importância da educação: “Acredito que todas as pessoas deveriam ter contacto com estes assuntos desde cedo.” Defende que se todas as pessoas crescessem informadas, “o mundo seria muito mais inclusivo”. E aponta para o centro da questão: “Quando há pais que não aceitam os filhos, muitas vezes é simplesmente porque nunca tiveram acesso ao conhecimento necessário para compreender. A ignorância cria medo, mas a informação cria amor.”
Dina elogia o rigor do episódio: “Foi pedagógico, científico e profundamente humano.” Para ela, é isso que importa quando se fala para crianças e famílias. Conclui com uma mensagem à RTP: “Programas assim não mudam apenas a televisão, mudam vidas.”
“O episódio não é perigoso para ninguém”

A segunda mensagem é de João Martins, pai da AMPLOS. João começa de forma direta: “O episódio dedicado à identidade trans não é perigoso para ninguém.” E esclarece a finalidade: “Levar crianças cis a respeitarem crianças trans, como devem respeitar qualquer pessoa. Nada mais.”
Fala da própria família. “Tenho um filho trans e uma filha cis, que é, na família, desde o início, a maior defensora do irmão.” E desfaz mais um mito: “Nunca ela teve dúvidas sobre a sua própria identidade de género.”
As críticas políticas do último mês causaram-lhe dor. João escreve: “Dói-me ler os ataques a este episódio, nos quais leio, sobretudo, o medo de quem conhece pouco esta parte da realidade.” E diz o essencial: “As crianças trans existem. Isto não é uma ameaça para ninguém, e qualquer idade é boa para o compreender.”
Recusa a ideia de confronto político: “Não quero estar de um lado da barricada, porque não deve sequer haver barricada.” E descreve a visão que gostaria de ver prevalecer: “Há lugar para toda a gente, para todas as crianças, lado a lado, com as diferenças que devem aproximá-las no respeito, no amor, na alegria e na honra de estar vivo.”
A frase que resume tudo surge no final: “Cada criança deve poder ser quem é e poder integrar-se com todas – TODAS – as outras.” E encerra com um agradecimento curto e firme: “Obrigado, RTP.”
Quando as palavras desmontam o ruído
O episódio de Sex Symbols tornou-se símbolo de algo maior. De um lado, discursos políticos que tratam identidades trans como ameaça. Do outro, famílias que vivem esta realidade todos os dias e que pedem apenas respeito, informação e espaço para crescerem com segurança.
A polémica passa. As palavras e as vidas ficam. E, como se vê aqui, dizem muito mais do que qualquer ataque partidário.
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