Ontem, no penúltimo dia do Queer Porto, o público pôde descobrir – ou redescobrir – através do documentário The Amina Profile, a história de Amina Arraf, uma rapariga sírio-americana que, após se apaixonar pela canadiana Sandra Bagaria e lançar o blogue A Gay Girl In Damascus – onde denuncia a opressão que as pessoas LGBT sofrem no seu País – é raptada pelo regime sírio.
É criada uma campanha para que Amina seja libertada, mas, após os esforços de activistas e jornalistas alcançarem proporções internacionais e grande destaque nos média, descobre-se que afinal Amina nunca existiu. Após algumas investigações, o americano Tom MacMaster assumiu ser o criador da personagem e de ter escrito todas as publicações do blogue e, inclusive, todas as mensagens enviadas a Sandra. Amina nunca existiu.
É um documentário que Sophie Deraspe filma com testemunhos das pessoas envolvidas, mas também com imagens reais – e violentas – do que estava a acontecer em 2011 na Síria. Quando filma Amina, desfocada, na sombra, de costas, oferece um contraste entre o real e a ficção. Porque essa é uma das questões que o filme levanta, até que ponto a ficção influencia a nossa realidade? Até que ponto cremos numa ficção que nos é apresentada como realidade? No final Sandra reune-se com Tom para tentar encontrar as suas respostas e o seu novo rumo.
É impossível ficar indiferente a esta história que iludiu por várias semanas todo o mundo e, assim, desviou as atenções do que realmente estava a acontecer na Síria. Vivemos numa sociedade em que o mundo online – e as amizades que daí surgem – nos ocupa cada vez mais tempo e é fácil acreditarmos em algo que está lá mas não está cá. Somos capazes de nos apaixonarmos por alguém que não existe, somos capazes de apoiar uma causa que não existe, somos até capazes de raptar alguém que não existe. E por ela lutar. Mas, não, Amina não existe.