
Não é raro encontrar em conversas – bem animadas, tenho que o confessar – referências a como as vaginas são “nojentas“, simulação de vómito incluída. A risada é generalizada e a conversa prossegue o seu percurso naturalmente. Isto acontece porque homens gays dizem-no repetidas vezes, ainda que através do humor, ainda que influenciados pelo efeito de grupo de outros homens gays, sim, claro, a vagina mete-lhes “nojo“, pois são “horrorosas” e “jamais se aproximariam de uma sequer“. E, sim, claro, vómito incluído. Again. Então, por que acho que nós, homens gays, devemos parar de chamar às vaginas de nojentas?
Tenho sérias dúvidas que se trate aqui apenas de uma desconstrução daquilo que um homem é suposto gostar, até porque há aqueles dentro da população LGBTI que, efetivamente, sentem atração pelo sexo oposto. Os homens bissexuais não são mito-urbano, acreditem. E, exclusivamente falando de vaginas e afins, há as mulheres lésbicas. E elas amam as suas vaginas. E elas são uma parte fundamental de todo o movimento LGBTI e feminista. Contra toda a minoração dos seus corpos, contra a negação da sua sexualidade, contra o nojo que lhes é lançado diariamente, inclusive por homens – e mulheres – heterossexuais. Faz sentido assim entrarmos numa lógica de desprezo da vagina? Qual o peso de uma piada destas? Que custo tem? Até que ponto não é isto consequência de uma misoginia entranhada em nós?
Não se trata aqui de condicionar a sexualidade, atração ou emoção de cada pessoa perante outra, longe disso. Mas julgo ser essencial perceber que custo tem a insistência numa piada generalizada em que, mais uma vez, é o corpo feminino a punchline, é o corpo feminino que sofre o desprezo e o nojo. Ainda para mais quando este surge de homens gays que, historicamente, se aliaram às mulheres lésbicas para que todo este movimento tenha ganhado força e chegado onde chegou hoje em dia. Não será co-responsabilidade nossa defender o corpo feminino? Ainda que muitos de nós não vá para a cama com elas, isso impede-nos realmente de as empoderar? Não, claro que não! Porque queremos – ou melhor, precisamos! – de mulheres fortes e confiantes. E, genericamente falando, só o alcançaremos se incluirmos as suas belas, lindas e languidas vaginas! Bem hajam!

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