Como a transfobia de Maya Forstater contou com o apoio de JK Rowling e um pedido de desculpas de Mark Hamill

Maya Forstater, de 45 anos, não viu o seu contrato renovado do “Centre for Global Development”, uma ONG dedicada a combater a pobreza e a desigualdade, depois de ter escrito que “pessoas do sexo masculino não são mulheres”.

Os tweets seguiram-se a uma disputa com cliente, Gregor Murray, que alegava que Maya dirigia-se-lhe com pronomes masculinos quando se identifica como “não binário” e pede por tratamento com os pronomes “they” e “them”, um termo neutro na língua Inglesa. Murray acusou Forstater de “transfobia” por esta usar um termo masculino.

Maya considera que tem o direito a tratar pessoas do sexo masculino por “Ele”, embora possa optar por usar pronomes alternativos como cortesia, ninguém tem o direito a obrigar outros a fazer afirmações em que não acreditam”. Foi com esta argumentação que levou o caso a tribunal, alegando ter direito à sua opinião. O juiz do Tribunal do Trabalho, contudo, discordou.

“Concluo, com base em todas as provas, que a requerente é absolutista na sua visão de sexo e que no cerne desta sua crença está a convicção de que se referirá a uma pessoa pelo sexo que ela considera apropriado, ainda que isso viole a sua dignidade e/ou crie um ambiente intimidatório, hostil, degradante, humilhante ou ofensivo. Esta abordagem não é digna de respeito numa sociedade democrática”, escreveu o juiz.

Posso estar a ser picuinhas, mas não posso deixar de reparar que o jornalista da Renascença foi incapaz de encontrar forma de tratar a pessoa que apresentou queixas sem ser no masculino na peça que escreveu. Talvez desse um pouco mais de trabalho, mas, não me parece, até pelo que escrevi e rescrevi anteriormente, que seja tarefa impossível para um profissional da área.

Mas continuando, a posição de Maya é especialmente sensível quando ela trabalhava com pessoas em contextos fragilizados, ou seja, a sua posição impedia-a de realizar o trabalho de forma dignificante para quem solicitava os serviços da associação em que trabalhava. Maya não tinha, portanto, perfil para ali continuar, parece uma ideia bastante simples de entender, especialmente quando andou a espalhar ódio transfóbico nas suas redes pessoais. Ela tem, obviamente, todo o direito a expressar as suas ideias preconceituosas, mas essa liberdade não a escuda da incompetência que isso lhe traz no seu trabalho.

Estranhamente, Maya Forstater recebeu um apoio de peso da autora da saga Harry Potter, JK Rowling, que escreveu: “Veste-te como quiseres. Chama-te como quiseres. Dorme com qualquer adulto que te aceite com consentimento. Vive a tua melhor vida com com paz e segurança. Mas despedir mulheres por afirmar que o sexo é uma realidade?” terminando com a hashtag “#IStandWithMaya”

Ora, este é um tweet especialmente preocupante porque parece dizer o óbvio e apenas quem entender o contexto da hashtag poderá entender a sua posição transfóbica. E foi precisamente isso que aconteceu com o ator Mark Hamill (Star Wars) que inicialmente se associou à posição de Rowling, mas, após compreender a situação, pediu desculpas e posicionou-se contra qualquer ideia transfóbica:

“A ignorância não serve de desculpa, mas gostei deste tweet sem perceber o que a última frase e hashtag significavam. Foram as primeiras quatro linhas que gostei e não me apercebi que tinham uma conotação transfóbica”, escreveu o ator.

Falta assim que JK Rowling esclareça a sua posição ou se a mantém. Quanto a Maya Forstater, ainda está a ponderar se recorre da decisão do tribunal, mas uma coisa fica clara, ajudar as pessoas passa por respeitá-las com a dignidade que merecem. Esta poderá ser a altura de, dadas as circunstâncias e historial, mudar de área.


Este tema esteve igualmente em discussão no Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈, oiçam:



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Respostas de 5 a “Como a transfobia de Maya Forstater contou com o apoio de JK Rowling e um pedido de desculpas de Mark Hamill”

  1. […] é uma tradição ancestral entre um homem e uma mulher. Também passámos pela polémica de JK Rowling e da sua transfobia e até acabou por se falar de Star Wars e do beijo lésbico que foi tão rápido que provavelmente […]

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  2. […] decidiu invadir o Twitter com uma série de tweets indiretamente e diretamente transfóbicos. Já não é a primeira vez que J.K. Rowling deixa revelar publicamente os seus valores de TERF – Feminista Radical […]

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  3. […] apoia crianças, jovens trans e de género diverso, tal como as suas famílias, desde 1995. Após meses de alegações por parte da autora consideradas transfóbicas por diversas associações… e o seu reforço das mesmas nos últimos dias, assim se pode […]

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  4. “ódio transfóbico” = dizer que sexo é imutável? Dizer que pessoas não podem mudar de sexo? Que gênero é opressão, principalmente para mulheres? Que pessoas não mudam de sexo, apenas adotam como identidade um pacote de estereótipos sexistas? Espero que um dia vcs acordem e vejam o delírio em que se meteram.

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  5. […] por cá vozes como a de Clara Ferreira Alves ou a de J.K. Rowling insistem na argumentação de que existe cancelamento de pessoas quando estas expressam opiniões […]

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