Entrevista a Rui Oliveira Marques do Festival Política: Olhamos para a realidade LGBTI+ nacional, mas também além-fronteiras como na Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos

Entrevista a Rui Oliveira Marques do Festival Política: Olhamos para a realidade LGBTI+ nacional, mas também além-fronteiras como na Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos

No dia em que arranca mais uma edição do Festival Política em Lisboa, lançamos a entrevista com Rui Oliveira Marques, jornalista e co-director artístico do evento. O festival, criado em 2017, é hoje o maior evento cultural dedicado aos direitos humanos e cidadania e decorre em Lisboa, Braga, Coimbra e Loulé. Tem contado com mais de cinco mil participantes ao longo das suas várias edições.

No ano em que são celebrados os 50 anos de 25 de Abril, o Festival Política dá palco a histórias de minorias que reivindicam ainda a sua concretização. Sem esquecer o avanço da extrema-direita em Portugal, o evento remete à intervenção civil, comunitária e artística. O Festival Política acontece entre os dias 3 a 5 de abril no Cinema São Jorge em Lisboa e propõe três dias de discussão e de partilha numa programação multicultural. Podes conferir os nossos destaques aqui.

Para explicar os desafios e objetivos desta edição do Festival Política em Lisboa, lê a entrevista a Rui Oliveira Marques:

Tendo em conta o tema “Intervenção” do Festival Política deste ano, como é que consideram que a missão do festival contribui para o diálogo e a visibilidade em torno dos direitos LGBTI e igualdade de género?

As temáticas da igualdade de género e dos direitos LGBTI estão presentes na nossa programação desde a primeira edição, precisamente com essa missão de dar palco a artistas, ativistas ou realizadores portadores de mensagens de inquietação ou de denúncia. Olhamos não apenas para a realidade nacional, mas também além-fronteiras.

Trailer de “Maghreb’s Hope

Por exemplo, este ano teremos connosco em Lisboa o realizador tunisino Bassem Ben Brahim, autor do documentário  “Maghreb’s hope”, que será exibido no dia 5 de abril, precisamente, sobre as experiências de pessoas queer em países como Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos. O Bassem é um jovem realizador que tem desenvolvido um trabalho muito corajoso ao trazer para o espaço público estas histórias. 

Com a exposição “História LGBT+ em Portugal” a fazer parte da programação, qual acham ser a importância destas iniciativas na sensibilização e educação do público sobre a luta histórica pelos direitos LGBTI em Portugal?

A exposição “História LGBT+ em Portugal” nasce de um convite que lançámos ao Clube Rainbow, associação de estudantes queer da Universidade do Minho, que tem vindo a divulgar nas redes sociais alguns episódios ou momentos-chave do percurso histórico LGBT+ de Portugal. O  resultado é uma exposição de dez cartazes em formato A1, que vai muito além dos conteúdos que já tinham sido produzidos para redes sociais, já que apresenta com detalhe os principais momentos – e outros pouco conhecidos da generalidade das pessoas – da História LGBT+ do nosso país.

Esta é a primeira “exposição portátil” do Festival Política, em que o propósito é, precisamente, criar um conteúdo sobre temas sociais e políticos relevantes, que depois é disseminado e apresentado nos mais diversos espaços, sejam teatros, salas de espetáculos ou escolas. Esta exposição irá, por isso, acompanhar-nos nas edições do Festival em Braga, Loulé e Coimbra. 

Considerando a conversa-performance “Troquei conforto por identidade” e o apelo geral à intervenção cívica do festival, como podem estas atividades estimular o diálogo e a participação cidadã ativa na comunidade LGBTI e pessoas aliadas, especialmente neste momento de aumento de polarização e desafios à democracia?

É essa a nossa expectativa. Daí que, em termos de tema para a programação de 2024, termos pretendido ir além da “participação” e sublinhar que é hora de “intervenção”. Tendo como pano de fundo os 50 anos do 25 de Abril, convocamos artistas, jovens, criadores, académicos e ativistas a desenvolverem propostas e reflexões focadas na necessidade de aumentar a participação dos cidadãos nas instituições, nos atos eleitorais e nas suas comunidades. Só em Lisboa teremos 20 atividades, várias das quais são projetos ou iniciativas que verão pela primeira vez a luz do dia no Cinema São Jorge. Acredito que deixarão sementes como ferramentas de defesa do nosso sistema democrático e dos nossos direitos e liberdades conquistados e dos que ainda faltam conquistar.

Como é que a organização do Festival Política vê o impacto do ativismo interseccional na evolução da consciência social e política em Portugal, especialmente no contexto dos 50 anos do 25 de Abril?

É seguramente uma forma de compreender melhor as desigualdades e discriminações existentes na nossa sociedade. Um bom exemplo de interseccionalidade será a conversa-performance “Troquei conforto por identidade“, em que os quatro protagonistas, que partem de realidades diferentes, vão abordar como a afirmação das suas identidades ainda hoje enfrenta no espaço público o preconceito, o insulto e a violência.

[Imagem via Instagram]

Festival Politica
Conversa-performance “Troquei conforto por identidade” | 5 de abril |18h30 | entrada livre

Mas ainda há tanto para fazer mesmo nesta altura de enaltecer os 50 anos de Abril. Basta pensar nas comunidades ciganas. Daí que, em parceria com a Rizoma, estejamos a apoiar o novo projeto audiovisual “Faz-te ouvir”, que será apresentado no dia 4 de abril, e que visa desmontar preconceitos e estereótipos associados às comunidades ciganas em Portugal.


Festival Política acontece entre os dias 3 a 5 de abril no Cinema São Jorge em Lisboa e a sua programação pode ser consultada na íntegra no seu site.

Festival Política
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