
JJ, representante da Áustria, venceu a Eurovisão 2025 com Wasted Love — uma performance intensa, emocional e visualmente arrebatadora que conquistou o voto dos júris e, por pouco, superou Israel no televoto. Johannes Pietsch, contratenor queer e de origem filipina de 24 anos, tornou-se assim o novo símbolo de resistência num festival cada vez mais politizado.
“Quero usar esta plataforma para defender os direitos da comunidade queer e lutar por mais igualdade. Há ainda muito estigma e a Europa está a tornar-se cada vez mais conservadora, temos de agir”, declarou em entrevista ao El País. JJ, que trabalha na Ópera de Viena, criticou ainda a censura no palco: tentou levar a bandeira do Orgulho escondida no bolso, mas foi impedido pela organização. “Tinha a bandeira no bolso das calças. Mas alguém da organização viu e disse: ‘essa não é a bandeira do teu país, não podes levá-la’. Por pouco, quase o consegui.”
O artista não poupou críticas à presença de Israel no concurso, especialmente num ano marcado pela guerra em Gaza. “É muito dececionante ver que Israel continua a participar. Gostava que, no próximo ano, a Eurovisão fosse em Viena… e sem Israel.” A sua posição junta-se às de outras delegações, como a Bélgica, que ameaçou abandonar o festival caso não haja mais transparência.
EBU sob pressão crescente para expulsar Israel da Eurovisão
A EBU, responsável pelo concurso, voltou a permitir a participação de Israel apesar dos apelos ao boicote, ignorando acusações de crimes de guerra cometidos pelo seu governo. Apesar das manifestações e críticas, Israel manteve-se em competição e quase venceu, dominando — pelo segundo ano consecutivo — o televoto. Um modelo que tem vindo a ser questionado por permitir a mobilização coordenada de votos, nomeadamente através de campanhas organizadas por embaixadas israelitas e redes de apoio ao regime, distorcendo assim a representatividade do voto popular.
Apesar de tudo, JJ insistiu em manter a esperança. A sua canção — Wasted Love, uma fusão de ópera e pop — fala de amor perdido, mas também de força interior. A encenação, criada pelo espanhol Sergio Jaén, transmitiu esse conflito com delicadeza e drama, num espetáculo que rompeu com o formato habitual da Eurovisão.
JJ é novo símbolo do triunfo queer na Eurovisão
Filho de mãe filipina e pai austríaco, JJ cresceu no Dubai. Foi só ao regressar a Viena, na adolescência, que pôde viver de forma mais livre enquanto pessoa queer. Em 2014, viu pela primeira vez uma final completa do festival — a edição em que venceu Conchita Wurst, que continua a ser uma referência. Desde então, a Eurovisão foi para si espaço de sonho, de pertença e agora, também, de ativismo. Tal como Nemo no ano anterior, JJ promete continuar a quebrar códigos.
A sua vitória não é só artística. É também um símbolo de resistência queer num palco cada vez mais politizado — onde a liberdade e os direitos humanos não podem ser ignorados.

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