
Estreado no Festival de Sundance, Ponyboi é um marco no cinema queer. O filme é protagonizado, escrito e realizado por River Gallo, artista intersexo e pessoa não binária, e conta a história de uma pessoa intersexo envolvida em trabalho sexual que sonha com liberdade, amor e um lugar seguro no mundo. O elenco conta ainda com Dylan O’Brien (Teen Wolf) e Murray Bartlett (Looking e The Last Of Us).
Um filme que quebra silêncios
Mais do que ficção, Ponyboi é profundamente pessoal. River Gallo tornou-se a primeira pessoa assumidamente intersexo na história do cinema a escrever e interpretar um filme sobre uma personagem intersexo trabalhadora do sexo.
“É um momento de celebração, mas também vem com algumas ansiedades”, confessou Gallo à Entertainment Weekly. “Disseram-me ‘estás a abrir caminho, és a primeira’, mas é uma carga pesada, porque não posso falar por todas as pessoas intersexo – só posso ser específica em relação à minha experiência. Espero que isso inspire novas artistas e cineastas a continuarem a contar histórias intersexo.”
Realismo e fantasia queer em Ponyboi
O filme mistura realismo cru com fantasia pop, com referências ao cinema noir, à estética club kid e a uma sensibilidade queer e intersexo vivida na pele. É uma carta de amor à juventude queer rejeitada e uma crítica à marginalização sistémica. Ponyboi propõe uma nova narrativa, centrada no desejo, na autonomia e na beleza de existir fora das normas impostas.
Gallo acrescenta: “Se este filme for o primeiro contacto que alguém tem com a vida de uma pessoa intersexo, como quero que seja essa primeira impressão? Espero estar a dar uma boa impressão. Quer dizer, estou incrível, por isso acho que sim!”
Quem são as pessoas intersexo?
Pessoas intersexo nascem com características sexuais (genitais, hormonais, cromossómicas) que não se enquadram nas normas típicas do sexo masculino ou feminino. São diversas as variações intersexo, e muitas vezes são invisibilizadas ou patologizadas desde cedo — com intervenções médicas não consentidas, repressão identitária ou falta de reconhecimento legal e social.
Apesar de se estimar que até 1,7% da população mundial seja intersexo, estas experiências continuam ausentes das narrativas mediáticas e culturais. No cinema, a representação é quase inexistente — e quando existe, raramente é feita por pessoas da própria comunidade.
Em Portugal, provavelmente a pessoa intersexo (ou intersexual, como também é usado) mais conhecida será o artista Salvador Sobral, vencedor do Festival da Eurovisão em 2017.
Um farol para o futuro
Ao dar corpo e voz à experiência intersexo, River Gallo abre espaço para que mais histórias possam ser contadas com verdade, coragem e autenticidade. Ponyboi não é apenas um filme — é um grito de existência, um espelho e uma porta para um cinema mais inclusivo e corajoso.
Num momento em que discursos de ódio e repressão crescem a nível global, a afirmação de corpos e identidades intersexo no ecrã torna-se não só urgente, mas profundamente transformadora.

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