Sarah Paulson vai voltar a colaborar com Ryan Murphy para interpretar Aileen Wuornos, uma das figuras mais controversas da história recente dos Estados Unidos. A atriz, conhecida por papéis intensos em American Horror Story ou Ratched, juntou-se ao elenco da quarta temporada de Monster, série antológica que se debruça sobre crimes reais e as suas personagens centrais. Entre as mais famosas temporadas está a de Jeffrey Dahmer, que expôs o racismo e a homofobia da sociedade.
A nova temporada, centrada em Lizzie Borden – que terá matado o seu pai e mãe com um machado – promete também explorar a vida de outras mulheres associadas a crimes mediáticos.
A vida de Aileen Wuornos
Entre elas estará Aileen Wuornos, mulher lésbica executada em 2002, condenada por assassinar sete homens entre 1989 e 1990, crimes que afirmou terem sido cometidos em legítima defesa após tentativas de violação enquanto trabalhava na estrada. As suas vítimas foram Richard Mallory, David Spears, Charles Carskaddon, Troy Burress, Charles “Dick” Humphreys, Peter Siems e Walter Antonio — homens que Wuornos conheceu enquanto exercia trabalho sexual. A forma como a justiça tratou o caso, ignorando muitas vezes o histórico de abusos e traumas que marcaram a sua vida, dividiu a opinião pública e levantou questões sobre violência de género, misoginia e desigualdade social.
Wuornos teve uma infância e juventude profundamente marcadas pela violência, negligência e pobreza. O pai suicidou-se na prisão após ser condenado por abuso sexual infantil, a mãe abandonou-a em pequena e os avós — que a criaram — eram alegadamente violentos.
Aos 14 anos, engravidou após uma violação e foi forçada a dar o filho para adoção, sendo expulsa de casa pouco depois. Sem rede de apoio, passou a viver nas ruas e sobreviveu através de pequenos furtos e trabalho sexual.
Durante as décadas de 1970 e 1980, acumulou detenções por assaltos e agressões, enquanto enfrentava uma vida errante e marcada pelo alcoolismo. A partir de 1986, viveu uma relação com Tyria Moore, mulher que se tornaria o seu principal laço afetivo e cuja traição, ao colaborar com a polícia, acabaria por precipitar a sua confissão e condenação.
A história de Wuornos foi amplamente retratada no cinema e na televisão, muitas vezes num limiar entre o sensacionalismo e o retrato humanizado. Tanto foi vista como uma assassina implacável, como o produto de uma sociedade que falhou em proteger uma mulher abusada e empurrada para a marginalidade.
O olhar de Sarah Paulson a Aileen Wuornos
Em 2003, Charlize Theron venceu o Óscar de Melhor Atriz por Monster, filme que apresentou Wuornos como uma mulher à deriva, traumatizada e à procura de amor. Agora, será Sarah Paulson a revisitar essa história e é grande a responsabilidade nos dias de hoje.
Conhecida pela sua capacidade de dar profundidade a personagens complexas, Paulson poderá trazer um olhar mais empático a uma figura tantas vezes reduzida à caricatura de “assassina lésbica”. Esse olhar torna-se ainda mais relevante num contexto em que as narrativas queer continuam, por vezes, presas ao estigma da violência ou da tragédia.
O casal Sarah Paulson e Holland Taylor
Fora do ecrã, Sarah Paulson tem sido também uma referência de visibilidade, ao lado da atriz Holland Taylor, com quem mantém uma relação assumida desde 2015. Ambas têm falado sobre a importância de viver essa relação com naturalidade, num meio que ainda tende a escrutinar a vida pessoal das pessoas queer com curiosidade desproporcional.
A forma como Monster abordará a história de Wuornos — e como Paulson a encarnará — será decisiva para perceber se esta será apenas mais uma reinterpretação de uma série de crimes famosos, ou uma oportunidade para questionar a forma como a sociedade lida com mulheres marginalizadas, a violência e o trauma.
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