Direito À Ofensa

Casal beija-se frente a graffiti na Lituânia. (Fotografia por AP Photo/Mindaugas Kulbis)

(Este artigo contém linguagem que pode ser considerada ofensiva para menores ou pessoas sensíveis.)

São homens, são mulheres, jovens, adultos e velhos. São cristãos, islâmicos e ateus. São esquerda, centro, direita. Cis e trans. São paneleiros, matrafonas, gym addicts, gordinhos, bichas, michas e líderes de juventudes partidárias. São popularuchas e snobes, são politicamente correctos e histéricas. São gajos que são gajas porque toda a gente sabe que ser gaja é insulto. São jornalistas (desa)creditados e são ódios de estimação em redes sociais. São dance pop e são musicais da Broadway. São likes, shares e retweets. São bocas abertas enquanto seguram o colar de pérolas que nunca tiveram. São desamigados, unfollows, blocks. São discussões intermináveis que terminam em puta, cabrão ou cabra.

É a liberdade de expressão de uns que é colocada em causa como se estes tivessem uma corda ao pescoço que lhes apertasse o discurso. Como se as teclas do seu computador, telefone, tablet de repente lhes tivessem sido confiscadas. Como se um argumento não pudesse ser respondido, comentado, refutado. Como se as suas opiniões existissem sem direito a resposta, nova abordagem ou apresentação de factos. Sem nada que as fizesse tombar, porque SOU LIVRE DE DIZER AS MAIORES BARBARIDADES E TENS QUE ME RESPEITAR, PORQUE É A LIBERDADE, SEU ESTÚPIDO!

É um vale-tudo. És um vale-nada. É uma orgia de teclas, letras e sílabas. São os porque sim e os porque não. Os nins e as reticências. É o insulto gratuito e o insulto inteligente. Neste direito à ofensa subsiste uma das maiores ferramentas de emancipação social e tem-no provado vezes sem conta. Porque são soutiens queimados, uma negra num autocarro ou um homem a enfrentar uma fila de tanques. Mas pode ser também uma estratégia de manipulação que pretende apenas perpetuar um preconceito, uma desigualdade, um estereótipo e, Deus nos livre, é coisa que não podemos compactuar numa sociedade patriarcal.

Por tudo isto, ofendamo-nos todos e todas. Ofendamo-nos sem diluirmos o impacto desta ferramenta social de reinvindicação e protesto. Ofendamo-nos sem que nos deixem de ouvir. Ofendamo-nos sem perdermos, definitivamente, o direito à ofensa. É esse o desafio (foda-se!).


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