
Des(Orientação) é o nome do livro de estreia de João Geraldes, natural do Porto, que será lançado no dia 29 de setembro. Nele é explorado um “maior sentido crítico relativamente ao processo de descoberta da orientação e identidade sexual“. Por entre a visão de autodescoberta da identidade plena vivida pelo autor a partir da sua juventude, fomos perceber como lutou contra a “vergonha e o preconceito” na altura e descobriu neste processo como viver de forma plena a sua identidade. Assim conversámos:
Na introdução do livro Des(Orientação) escreves como o seu lançamento é um dos teus sonhos, uma espécie de resposta às inseguranças e aos medos que sentias desde a adolescências, mas também à simples timidez. Como foi este percurso que culmina este mês com o lançamento do livro? Fala-nos um pouco de ti…
Como pessoa tímida e introvertida que era, na fase da adolescência, sentia que escrever me permitia perceber melhor aquilo que eu sentia, as minhas dúvidas e as minhas inseguranças, pelo que foi, desde cedo, que comecei a escrever textos, alguns dos quais estavam associados à orientação sexual e à definição da identidade sexual. Mais tarde, numa altura onde já apresentava uma atitude mais crítica relativamente à sociedade e após a minha formação em psicologia, que foi o curso que eu escolhi, por sentir que sempre me fascinaram os comportamentos e os pensamentos e na tentativa de tentar entendê-los melhor, acabei por me conseguir definir melhor, enquanto pessoa.
Um dos aspetos que acompanhou o processo de definição da identidade foi sentir que a minha orientação sexual, que eu cheguei a julgar ser algo do que eu deveria ter vergonha e medo, na adolescência, não deveria ser recalcada, mas sim vivida de forma positiva e livre. Foi, dessa forma, já após ter exercido voluntariado na área da sexualidade, que decidi que deveria escrever um livro acerca do meu processo de definição da orientação sexual e a forma como este foi vivido.
Alguns amigos desafiaram-me no sentido de tornar aqueles textos em algo mais sólido, acreditando que poderiam ser uma ferramenta útil que poderiam ajudar outras pessoas que se identificassem com as minhas dúvidas, preocupações e medos e que, à semelhança de mim, conseguissem transformá-los numa vivência positiva e integrada da sexualidade.
E como se deu essa viragem pessoal, a passagem do medo e vergonha em liberdade e orgulho?
Essa viragem foi precisamente a mudança do foco da orientação sexual como algo conotado socialmente de forma negativa para o valorizar da necessidade de me manter fiel à minha identidade e, consequentemente, à minha felicidade, da qual a vivência positiva e integrada da sexualidade era uma dimensão que não podia estar dissociada. Dessa forma, importa mantermo-nos fiéis àquilo que somos, independentemente do que os outros vão julgar sobre as nossas características pessoais, nomeadamente, a orientação sexual. Não sendo uma escolha e sendo algo natural, merece ser vivida com abertura de espírito, podendo incluir a dimensão amorosa, na nossa vida.
Além disso, um dos momentos que me levou a perceber que deveria permitir-me viver de forma honesta perante a minha orientação sexual foi precisamente uma conversa que tive com um amigo, que era homossexual e que estava com a sua orientação e identidade sexuais bem integradas na sua vida e que percebeu que eu não estava a ser feliz, ao viver na sombra do medo por algo do qual eu não devia ter receio nem vergonha. Assim, importa realçar que a orientação sexual, qualquer ela que seja, é sempre uma dimensão individual que deve ser respeitada. Por si só, a homossexualidade não tem uma conotação negativa. Esta conotação está associada à forma como a sociedade ainda a encara, com preconceito, e a julga por, alegadamente, não ir de encontro à maioria e por, habitualmente, as pessoas discriminarem e excluírem aquilo que desconhecem. A partir do momento em que optamos por, acima de tudo, sermos felizes, em todas as dimensões da nossa vida, das quais a sexualidade é uma parte integrante, deixamos de valorizar e priorizar aquilo que os outros pensam, para valorizarmos aquilo que nos permite viver uma vida realizada, da qual os julgamentos sociais, mais especificamente os preconceitos, devem estar excluídos.
Sendo este um livro que condensa um apanhado de textos e reflexões ao longo do tempo, qual foi o maior desafio que sentiste na escolha e organização dos mesmos? Existiu algum momento de hesitação?
O processo de junção dos textos e o seu desenvolvimento e articulação foi natural. Acabei por seguir uma lógica de junção de tópicos em comum, que foram subdivididos segundo as fases que atravessei durante o processo de definição da minha orientação sexual. Estas fases estão identificadas nos capítulos, tendo dado origem aos títulos respetivos. Por isso, o livro acaba por estar organizado de uma forma que é natural, seguindo os aspetos que se manifestam como as maiores dúvidas, receios e medos durante a (des)orientação sexual.
Não existiram momentos de hesitação mas sim de reflexão, daí que a obra foi sendo partilhada com os prefaciadores, no sentido de perceber se a organização dos textos e a mensagem veiculada era clara e objetiva, podendo ser facilmente interpretada pelos outros.
O próprio autor acaba por ter alguma dificuldade em se distanciar do texto, por estar demasiado imerso nele, principalmente quando se trata de uma reflexão baseada em dados autobiográficos. O contributo dos restantes participantes neste projeto foi essencial de forma a torná-lo uma ferramenta para todos os públicos – os pais, os jovens, os profissionais…

E quem são as pessoas que prefaciaram o livro? Como chegaram a ele?
Foram três as pessoas que convidei para prefaciarem o livro. Luís Santos (Professor na Universidade Fernando Pessoa), André Lamas Leite (Professor na Faculdade de Direito da Universidade do Porto) e Diogo Vieira da Silva (Coordenador Europeu do It Gets Better Project).
Escolhi pessoas de diferentes áreas profissionais, de forma a conjugar diferentes perspetivas e contributos para o livro. Enquanto o Luís e o Diogo foram pessoas às quais eu cheguei através de sugestões de pessoas que eu conhecia, não os conhecendo anteriormente ao momento em que reunimos para eu lhes apresentar a ideia da obra e para os convidar para a elaboração do prefácio, o André é um amigo, que foi, também, meu professor numa pós-graduação, no âmbito das ciências forenses.
Os três contribuíram de forma ativa e participada no processo de conceção e execução deste projeto. Os seus contributos permitiram enriquecer o resultado final, que terão a oportunidade de ler em breve. O André conseguiu enquadrar as questões da orientação sexual, no âmbito legal e dos direitos fundamentais, o Luís na vertente do ajustamento psicossocial, e o Diogo, na dimensão de defesa dos direitos LGBTI.
Estás neste momento a preparar o lançamento do livro, onde podem as pessoas encontrar-vos [sessões de apresentação, livrarias, etc.] e o que podem esperar desses encontros?
O livro vai ser comercializado como ebook na Amazon Books, iTunes Store e Kindle. Adicionalmente, na Amazon Books, pode ser adquirido em formato papel, com entrega no domicílio. Daí que o livro esteja disponível com muito maior facilidade, para que todos possam adquiri-lo conforme as suas preferências, seja em formato digital ou em formato de papel.
A sessão de apresentação será no dia 29 de setembro, no Porto, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, às 17h30min. Nela, haverá um momento musical, com o cantor Tiago Braga, que aceitou o desafio que lhe propus, nomeadamente, de cantar o seu novo single Ilusão, enquadrado no tema do livro.
Além disso, os prefaciadores estarão presentes na apresentação e irão, igualmente, contribuir com as suas perspetivas pessoais e experiências profissionais, analisando o livro à luz da sua leitura. Estou ainda em fase de agendamento de uma sessão de apresentação em Lisboa, a qual será divulgada em breve, nas redes sociais do livro.
Acima de tudo, pretende-se, nestas apresentações, desmitificar algumas questões acerca da orientação sexual. Um dos principais objetivos é alertar para a necessidade de deixar de existir preconceito em relação à abordagem de alguns temas — neste caso a orientação sexual — que são naturalmente humanos e, acima de tudo, de valorizar as pessoas, independentemente das suas particularidades.
Sigam o lançamento do livro Des(Orientação) pela Página do Facebook e pelo Instagram! Podem igualmente adquiri-lo em vários formatos na loja online oficial.

Atualização 20 outubro 2018:
O livro contará com nova apresentação, desta vez em Lisboa no The Late Birds pelas 17h30:
