A nova fase de RuPaul’s Drag Race e a necessidade de reinvenção

Foram ontem anunciadas as duas novas temporadas de RuPaul’s Drag Race, o concurso/reality-show que revolucionou a arte do drag e trouxe a cultura queer para o mainstream, com todos os efeitos positivos (e alguns negativos). Começou no canal maioritariamente gay Logo e desde a temporada nove que passou a ser exibida no VH1, onde o público cresceu exponencialmente. É neste canal que vão ser exibidas as agora anunciadas 12ª temporada do concurso bem como a All Stars 5, onde ex-concorrentes não vencedoras tentam ganhar a coroa e o prémio de 100.000 dólares.

Esta nova temporada de All Stars, depois de um finale algo controverso do All Stars 4, será exibida primeiro e já foi filmada, tanto que o elenco já está praticamente confirmado. Teremos o regresso de lendas como Ongina e Jujubee, da primeira e segunda temporada de Drag Race, bem como novas favoritas como Shea Coulée e Miz Cracker, da nona e décima temporadas. Mariah Balenciaga, Alexis Matteo, India Ferrah, Blair St. Clair, Mayhem Miller e Derrick Barry devem ser as restantes queens a elencar esta temporada de All Stars.

Mas, para além da temporada 12, e ainda antes da quinta temporada de All Stars, RuPaul prepara-se para expandir (ainda mais) o seu império com a a primeira temporada de RuPaul’s Drag Race UK onde irá, juntamente com a fiel Michelle Visage e o júri residente constituído por Alan Carr e Graham Norton, procurar a primeira/próxima superestrela drag do Reino Unido. E, pelos rumores, prepara-se para mudar o panorama não só da sua antecessora americana, como do drag em si, tendo em conta que o arrojo e humor na arte de fazer drag em terras de Sua Majestade. Para não falar da versão tailandesa de Drag Race, que já conta com duas temporadas, e numa delas uma das concorrentes incendiou(-se) (n)a passerelle, literalmente.

Numa altura em que muitas pessoas dentro da comunidade LGBT acusam Drag Race de se conformar às exigências do mainstream e de RuPaul especificamente de não ser tão progressiva como antigamente, a realidade é palpável. Desde 2009 que vemos as nossas histórias representadas no ecrã de televisão, personificadas em pessoas que sempre foram discriminadas pela sociedade e muitas vezes esquecidas pela própria comunidade LGBT. E impossível (e desaconselhável) pensar nos nossos direitos sem mencionar as drag queens que foram a linha da frente pela luta dos mesmos. Nomeadamente mulheres trans, como Sylvia Rivera e Marsha P. Johnson, secção da nossa comunidade que continua a ser por demais ostracizada.

Ainda não há muito tempo o próprio RuPaul disse (desculpando-se pouco depois) que não fazia sentido mulheres, trans ou cis, fazerem parte do concurso que pretende ser de personificação do feminino. Mas depois de Peppermint (em baixo) e Gia Gunn, duas mulheres abertamente trans, participarem em edições anteriores de RuPaul’s Drag Race estamos claramente prontas e prontos que este concurso que marca a nossa cultura, não só internamente mas também externamente seja TOTALMENTE inclusivo. E não mais algo feito para homens gay brancos. Porque há tantas outras histórias que precisam de ser contadas.

Fonte: Variety