Laurinda Alves: Lei escolar permite que identidade de género duma criança seja verificada “baixando-lhe as calças”

A jornalista e cronista Laurinda Alves acha que se comprova a identidade de género atribuído à nascença de uma criança “baixando-lhe as calças“. Acha igualmente que “as casas de banho das escolas serão obrigatoriamente abertas a rapazes e raparigas de todas as idades“, mas o que diz, na realidade e com maior seriedade, a lei que pretende proteger as crianças e adolescentes nas escolas portuguesas?

De uma forma geral, ficam assim explicitadas na lei as práticas que as escolas devem seguir, nomeadamente:

  • Fazer respeitar o direito da criança ou jovem a utilizar o nome autoatribuído em todas as atividades escolares e extraescolares que se realizem na comunidade escolar, sem prejuízo de assegurar, em todo o caso, a adequada identificação da pessoa através do seu documento de identificação em situação que o exijam, tais como o ato de matrícula, exames ou outras situações similares;
  • Promover a construção de ambientes que na realização de atividades diferenciadas por sexo permitam que se tome em consideração o género autoatribuído, garantindo que as crianças e jovens possam optar por aquelas com que sentem maior identificação;
  • Ser respeitada a utilização de vestuário no sentido de as crianças e dos jovens poderem escolher de acordo com a opção com que se identificam, entre outros, nos casos em que existe a obrigação de vestir um uniforme ou qualquer outra indumentária diferenciada por sexo.

E no que toca às casas de banho, diz a lei:

  • As escolas devem garantir que a criança ou jovem, no exercício dos seus direitos, aceda às casas de banho e balneários, tendo sempre em consideração a sua vontade expressa e assegurando a sua intimidade e singularidade.

Toda a visão catastrofista da cronista soa, acima de tudo, a preconceito e a ignorância, sendo esta última indesculpável para alguém com a carteira de jornalista que decide escrever sobre o assunto.

Que fique claro: não, não se comprova a identidade de género atribuído à nascença de uma criança – ou qualquer outra pessoa, já agora – baixando-lhes as calças ou as saias. Sustentar esta hipótese, como forma de contra-argumento e denúncia à nova lei, é simplesmente desonesto e populista. Porque a Laurinda mostra a sua discordância apoiando-se nos alicerces da privacidade individual (um problema quando, na sua visão, “todos os géneros [serão] enfiados em casas de banho de escolas e liceus ao mesmo tempo“) e ataca precisamente remetendo ao mais baixo populismo: obrigar, segundo ela, crianças a mostrar o seu sexo a responsáveis escolares. Ora, obviamente não é isso que está em causa. Esta é uma lei que, em conjunto com os responsáveis legais das crianças, lhes dá ferramentas de apoio e de confidencialidade para um ambiente escolar mais saudável.

Mais, é precisamente na formação apropriada aos responsáveis escolares, tal como às crianças e adolescentes, que a questão do bullying – que incomoda tanto a cronista – é tratada, precisamente para tornar possível um ambiente escolar mais saudável para todas as pessoas.

Laurinda termina escrevendo que acreditará apenas num governo quando este “se ocupar tanto dos deficientes, dos mais pobres, dos mais doentes e dos mais abandonados – que são milhões! – como se ocupa das suas minorias de estimação.” A falácia do seu argumento é simples: coloca assim uns grupos discriminados contra outros, como se não fosse responsabilidade do Estado e da sociedade proteger e acolher todos eles. O seu remate parece ignorar também que as pessoas trans são também elas muitas vezes remetidas para a pobreza, para a doença e para o abandono precisamente pelo estigma que suportam. E esse estigma foi reforçado, mais uma vez, pelas palavras de Laurinda Alves. Pena.

Poderão aceder à lei na íntegra aqui [PDF].

Fonte: Imagem.


Ep.197 – 25 de Abril SEMPRE! no teatro & The Tortured Poets Department Dar Voz a esQrever: Notícias, Cultura e Opinião LGBTI 🎙🏳️‍🌈

O CENTÉSIMO NONAGÉSIMO SÉTIMO episódio do Podcast Dar Voz A esQrever 🎙️🏳️‍🌈 é apresentado por nós, Pedro Carreira e Nuno Miguel Gonçalves. Celebramos os 50 anos do 25 de Abril, com todo o contexto atual triste e da transgressão da comunidade LGBTI e também da arte, nomeadamente das peças de teatro Quis Saber Quem Sou de Pedro Penhim, em cena por todo o país, e Catarina e a Beleza de Matar Fascistas de Tiago Rodrigues, agora em livro. No Dar Voz A… como não podia deixar de ser, temos… Taylor Swift e o seu novo e antológico The Tortured Poets Department. Ah, e não podiamos deixar de congratular Nymphia Wind, the next drag superstar!!! Artigos mencionados no episódio: 25 de Abril, o ponto de partida para o Orgulho LGBTI O 25 de Abril Também Passou Por Nós (e nós por ele) Nymphia Wind elogiada pela Presidente de Taiwan na vitória em RuPaul’s Drag Race Sasha Colby, vencedora de RuPaul’s Drag Race: “Sou uma mulher trans e uma drag queen. Sou a personificação do que querem erradicar” AbriLés 2024: Celebrar a Visibilidade Lésbica em Portugal EMIS24: Se és homem, mulher trans ou pessoa não binária que se sente sexualmente atraída por homens, este inquérito é para ti! CRONOLOGIA LGBTI DO 25 DE ABRIL 1974: 25 de Abril 1982: Homossexualidade descriminalizada 1999: Homossexuais e bissexuais podem servir abertamente nas Forças Armadas 2004: A orientação sexual é incluída na Constituição Portuguesa no artigo 13º – Princípio da Igualdade 2010: O Casamento é estendido a casais de pessoas do mesmo sexo 2015: Parlamento aprova adoção e apadrinhamento civil de crianças por casais do mesmo sexo 2018: Lei da autodeterminação de género 2021: Fim da discriminação na dádiva de sangue 2023: Criminalização das “terapias de conversão” INQUÉRITO EMIS2024: https://maastrichtuniversity.eu.qualtrics.com/jfe/form/SV_00TU5rrPxK3dzoO Jingle por Hélder Baptista 🎧 Este Podcast faz parte do movimento ⁠#LGBTPodcasters⁠ 🏳️‍🌈 Para participarem e enviar perguntas que queiram ver respondidas no podcast contactem-nos via Twitter e Instagram (@esqrever) e para o e-mail geral@esqrever.com. E nudes já agora, prometemos responder a essas com prioridade máxima. Podem deixar-nos mensagens de voz utilizando o seguinte link, aproveitem para nos fazer questões, contar-nos experiências e histórias de embalar: ⁠https://anchor.fm/esqrever/message⁠ 🗣 – Até já unicórnios #25deAbril #25deAbrilSempre #NymphiaWind #DragRace #TaylorSwift #TTPD — Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/esqrever/message
  1. Ep.197 – 25 de Abril SEMPRE! no teatro & The Tortured Poets Department
  2. Ep.196 – famílias & Famílias, Sasha Velour & The Big Reveal
  3. Ep.195 – Raffaella Carrà, Orville Peck e Drag Race

O Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈 está disponível nas seguintes plataformas:
👉 Spotify 👉 Apple Podcasts 👉 Youtube 👉 Pocket Casts 👉 Anchor 👉 RadioPublic 👉 Overcast 👉 Breaker 👉 Podcast Addict 👉 PodBean 👉 Castbox 👉 Deezer