Do Nojo: Juventude Popular contra “Ideologia de Género nas Escolas”

Depois dos comentários aviltantes de Laurinda Alves contra o despacho do Diário da República  n.º 7247/2019 que visa a utilização das casas-de-banho escolares consoante o género com que as crianças e jovens se identificam, é a vez da Juventude Popular do CDS-PP – na pessoa do seu (preconceituoso e intolerante) presidente Francisco Rodrigues dos Santos (na foto)- a insurgir-se contra estas medidas que visam proteger a identidade, privacidade e segurança dos alunos.

Em comunicado no Facebook, a Juventude Popular insurge-se contra a medida e exige suspensão do despacho do Governo, enquanto ataca os partidos à esquerda e os acusa de “investidas de aventureiros radicais que pretendem transformar o Ensino em Portugal na sua ‘rave’ privada“:

As falácias são várias nesta investida contra o Governo e os partidos com assento parlamentar à esquerda – nomeadamente o Bloco de Esquerda com tem claramente uma obsessão pouco saudável – que trabalharam e aprovaram a lei. Enuncia que “a Juventude Popular opõe-se inteiramente à politização do sexo, à hipersexualização dos jovens e à concepção ideológica que adultera o ensino para construir um homem novo” confundindo mais uma vez, e propositadamente (!!!) para criar reações extremadas, coisas tão distintas como orientação sexual, sexualidade e identidade de género. Continua: “Para a Juventude Popular a tolerância e o respeito pela diversidade não se cultivam através de construções artificiais, teorias desordenadas e voláteis contrárias à ciência“. A gravidade de afirmações falaciosas adensa-se, nomeadamente invocando a Ciência como validação do preconceito, discriminação e lutas políticas. Mas a ILGA Portugal já reagiu em comunicado (em baixo) e os números (e a Ciência) não mentem. Relembra os dados do Estudo Nacional sobre o Ambiente Escolar (ENAE), publicados em 2017:

[A]s escolas são, para muitos/as jovens LGBTI+, um ambiente de insegurança e desconforto, onde o insulto e outras atitudes negativas são frequentes.
» 36,8% sentem insegurança por causa da sua orientação sexual e 27,9% por causa da sua expressão de género 
» Cerca de 75% evita frequentar espaços como os balneários, casas de banho ou aulas de educação física, por insegurança ou desconforto (33,6%, 25,5% e 22,2%, respetivamente). Áreas como recintos desportivos (14,2%) ou a cantina ou bar da escola (13,3%) são também evitadas. 
» Pelo menos 15,4% faltou às aulas no último mês por sentir insegurança ou desconforto.

 E acerca da reação da Juventude Popular afirma: “A negação da importância e necessidade deste despacho e de TODAS as suas medidas é a veiculação de uma cultura instituída de opressão, bullying e silenciamento de identidades de crianças e jovens LGBTI e que tem repercussões no seu bem estar físico e mental para toda a vida“. Continua por ressalvar que medidas semelhantes já se encontram em vigor por toda a Europa: “A prevenção deste tipo de impacto negativo tem sido uma preocupação constante de organismos internacionais, como o Conselho da Europa e a UNESCO, pelo que já há vários guias orientadores para profissionais de educação em diversos países – também europeus.”

Apesar de não surpreendente, é asqueroso que mesmo um partido posicionado à direita, e cada vez mais extremado, venha a insurgir-se publicamente contra medidas que protegem pessoas – crianças, jovens – trans e intersexo, sem qualquer razão válida por detrás da discordância para além da declarada guerra política com a esquerda. O CDS-PP, e aqui a sua Juventude Popular, tem ainda a ousadia de fazer acreditar que estas acções discriminatórias têm como objectivo “defende(r) intransigentemente a liberdade no quadro da dignidade da pessoa e do respeito pela natureza humana. Assim como esteve sempre na linha da frente pelo direito de cada um ser aquilo que quiser, pela protecção da autodeterminação de cada adulto, respeitando a diferença e afirmando a tolerância pelas opções individuais“. Assim se finge descaradamente estar do lado das minorias enquanto se revela desconhecer as suas lutas, menosprezando-as enquanto “opções individuais“. Assim também ganha terreno junto dos que menos compreendem o que realmente está em causa, conjurando frases feitas e mentiras para conquistar através do preconceito, como tão bem os partidos de extrema-direita têm vindo a fazer por toda a Europa. Do nojo.

Fonte: DN