
Mara Gómez tornou-se na primeira jogadora de futebol trans a jogar na principal divisão Argentina. Gómez assinou um contrato com o Villa San Carlos na recém-profissionalizada Primeira Divisão Feminina depois de ter passado anos a jogar nas ligas amadoras.
A conquista de Gómez não é uma novidade mundial – há exemplos de atletas trans em Espanha, Canadá ou Inglaterra – mas é um momento importante num país onde o futebol está entrelaçado com a sua própria identidade nacional.
Enquanto a sua estreia marca um ponto na história do futebol argentino, a jovem de 23 anos diz simplesmente que “a única coisa que realmente fiz foi jogar futebol”.
Foi um longo caminho, foram muitos os obstáculos, os medos e as tristezas. Houve dias em que pensava que nunca ia ser ninguém, que nunca ia ter a oportunidade de ser feliz, mas agora é exactamente o contrário, estou a cumprir um dos grandes objectivos da minha vida
O seu contrato com o Villa San Carlos foi assinado em fevereiro, mas a estreia de Gómez foi adiada quando a Argentina entrou num rigoroso confinamento contra o novo coronavírus. Goméz treinou assim em casa e passou pelas medidas burocráticas de certificar que poderia jogar com a FA da Argentina, que segue as diretrizes do Comité Olímpico Internacional sobre atletas trans. O cumprimento não era um problema para Gómez, dado que ela já está em tratamento hormonal há algum tempo. “[A AFA] recebeu-me com respeito … o presidente ouviu-me e ajudou-me a superar um passado de dor”, disse.
As dificuldades reais foram mais pessoais, segundo Gómez. Embora a lei, o seu clube e as instituições em seu redor a tenham apoiado, é a cultura da Argentina que impede as raparigas, trans ou cis, de jogar futebol. Há poucos anos, as argentinas não falavam nada sobre futebol feminino, diz Gómez, muito menos discutir oportunidades para jogadoras trans.
“Não é apenas o que queremos fazer e as leis de identidade de género que temos na Argentina, mas também a fortaleza pessoal de alguém”, diz ela relembrando também que “não se trata apenas do biológico, mas do técnico, da tática, do tempo de treino, dos anos de experiência.”
Gómez está a viver finalmente o seu sonho e está feliz por ter quebrado barreiras: “Não é uma conquista individual, é uma questão social e colectiva.”
Fontes: The Guardian e Público.