
Já foram apresentados os primeiros destaques da 15ª edição do MOTELX, Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa e, de 7 a 13 de setembro no Cinema São Jorge, há um foco feminista sobre este género de cinema.
Se em 2020, o foco da programação recaiu sobre as questões de racismo sistémico, a 15ª edição, a partir da selecção de filmes feministas para a competição oficial como “Black Medusa”, de Ismaël e Youssef Chebbi, ou “Violation”, de Madeleine Sims-Fewer e Dusty Mancinell, a inspiração, refere a organização, “bebe-se no movimento #metoo“.
No sentido de deitar por terra o estereótipo da representação masculina nos filmes de terror, estes dois filmes lançam as bases para a criação da identidade do MOTELX 2021 – protagonizada em spot por Sónia Balacó – e para um programa especial intitulado “Fúria Assassina – Mulheres Serial Killer”. Num género de cinema dominado pelo olhar e protagonismo masculinos, a 15ª edição promete dar assim merecido destaque à visão de mulheres. E é esse empoderamento que ganha aqui uma dimensão militante, já que a maioria dos títulos apresentados são escritos e realizados por mulheres.
Esta retrospectiva junta os escassos filmes de serial killers mulheres apresentando o biopic de Erzsébet Bathory, a “A Condessa Sangrenta” (2009), realizado por Julie Delpy; “Monster” (2004), filme realizado e magistralmente interpretado por Charlize Theron sobre a mais famosa assassina norte-americana; o filme choque “Baise-Moi” (2000), de Virginie Despentes e Coralie Trinh Thi; o ritualístico e desconcertante “Audition” (1999), de Takashi Miike; e a sátira puritana de John Waters, “Serial Mom” (1994). A secção Fúria Assassina – Mulheres Serial Killer contará ainda com o filme “Office Killer” (1997), de Cindy Sherman.

A Condessa Sangrenta: A verdadeira história da Condessa Bathory nascida em 1560. Aos 14 anos, casou-se com um poderoso senhor da guerra, dez anos mais velho. Apesar da relação tornar-se fria e distante, tiveram quatro filhos. Após a morte do marido, apaixona-se por um atraente jovem que parte para o estrangeiro deixando-a cinco anos à sua espera. Em desespero, começa a banhar-se em sangue de virgens, convencida que isso lhe traria eterna juventude e beleza, pondo em marcha uma série de eventos traiçoeiros e sangrentos que conduziram à sua queda. Segunda longa-metragem da atriz Julie Delpy, que tenta humanizar a ‘condessa sangrenta’ através da sua história pessoal e íntima num elenco de luxo que, além da própria Delpy no papel da Condessa, inclui William Hurt e o germânico Daniel Brühl. Estreado no festival de Berlim em 2009.

Monster: Vítima de abusos durante a infância, Aileen Wuornos tornou-se prostituta ainda na adolescência. Estava decidida a pôr termo à própria vida quando conhece Selby, uma jovem com quem Aileen acaba por se envolver. Uma noite, depois de ser agredida por um cliente, Aileen comete homicídio em legítima defesa, um incidente que despoleta nela uma fúria assassina que a tornaria na ‘primeira serial killermulher dos EUA’. A estreia de Patty Jenkins nas longas-metragens ficaria marcada por aquilo que Roger Ebert classificou de «uma das maiores interpretações na história do cinema». A transformação de Charlize Theron em Aileen Wuornos valer-lhe-ia muitos prémios de interpretação, incluindo o Óscar de Melhor Actriz em 2004. O interesse na vida de Aileen Wuornos mantém–se, com o anúncio de uma prequela intitulada “American Boogeywoman”.

Baise-Moi: Nadine e Manu, duas jovens que vivem numa pequena cidade do sul de França, são raptadas e violadas por três homens, o que as levará a iniciar uma viagem de crime, violência e morte, sem regresso possível. Baseado no romance homónimo da co-realizadora Virginie Despentes, “Baise Moi” é o que se costuma apelidar de ‘filme-choque’, devido não só à violência extrema, mas, sobretudo, por conter cenas de sexo hard-core. Tanto a co-realizadora Coralie Trinh Thi como as actrizes Karen Lancaume (que se suicidaria em 2005, com 32 anos) e Raffaëlla Anderson trabalhavam na indústria de cinema porno francesa. O conteúdo sexual e violento levou a que o filme tenha sido censurado e banido em diversos territórios.

Audition: Quando Shigeharu é convencido pelo filho adolescente a voltar a casar, um amigo produtor de cinema convida-o a participar nas audições para um filme que pode nem vir a ser feito. Enquanto um procura uma actriz, o outro seleccionará a futura esposa. Asami é a escolhida, mas Shigeharu está longe de imaginar os terríveis segredos da jovem. Do mesmo ano de “Dead or Alive”, “Audition” marca o início da popularidade internacional de Miike, que já tinha dado nas vistas em festivais com “Fudoh” uns anos antes. Com um ritmo lento, que quase hipnotiza, o filme é quebrado por uma mudança de registo que nos conduz até um clímax brutal e sem concessões ao bem-estar do espectador. Um dos mais marcantes filmes do realizador japonês.

Serial Mom: Beverly Sutphin é uma dona de casa feliz e com uma vida encantadora – tem uma bela casa nos subúrbios, um marido dentista de sucesso e dois filhos adolescentes. Mas, um dia, depois de um professor falar do filho de forma depreciativa, Bev atropela-o no parque de estacionamento da escola. De súbito, vê-se com um gosto insaciável por matar. Do mestre da transgressão e do grotesco escondido sob um manto de normalidade suburbana, “Serial Mom” foi vendido pelo realizador ao estúdio como «não o habitual filme de John Waters sobre pessoas loucas num mundo louco, mas um filme sobre uma pessoa normal, num mundo realista, a cometer os actos mais loucos». Filme de encerramento (fora de competição) no Festival de Cannes de 1994

Office Killer: Quando o emprego de Dorine Douglas como revisora da Constant Consumer Magazine é reduzido a um part-time durante uma reformulação interna, ela não sabe como lidar com a situação, mas depois da morte acidental de um dos seus colegas de trabalho, ela descobre que o homicídio pode apaziguar a solidão da sua vida doméstica. O único filme de ficção realizado por Cindy Sherman, uma das mais importantes artistas visuais contemporâneas, foi produzido por Harvey Weinstein e aquando da sua estreia foi mal recebido pelo público e pela crítica, e a partir daí referências à sua existência foram escasseando. À distância de 25 anos, “Office Killer” parece ser o elo perdido entre “American Psycho” e “The Office”, mas acima de tudo, estabelece um diálogo muito próximo com a obra da artista que parece autorrepresentar-se na personagem interpretada por Carol Kane.
Poderão conferir todos os destaques e programação completa da 15ª edição do MOTELX no site do festival. Bom cinema!

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