Papa Bento XVI: O legado contra a população LGBTI+, a luta contra o VIH/SIDA e a facilitação do abuso sexual

O legado de Papa Bento XVI contra a população LGBTI+, a luta contra o VIH/SIDA e a facilitação do abuso sexual

O Papa Bento XVI, que renunciou ao cargo de chefe da Igreja Católica em 2013, morreu no dia 31 de dezembro aos 95 anos. Ao longo dos anos tomou posições e fez declarações que contribuíram para a desumanização da população LGBTI+ ou colocou obstáculos à luta contra o VIH/SIDA. Não é por acaso que foi apelidado de “Rottweiler de Deus”.

Tão recentemente como em 2021, o Papa emérito Bento XVI afirma que “o conceito de casamento homossexual está em contradição com todas as culturas da humanidade”. Joseph Ratzinger ainda defende que houve uma “distorção de consciência” em setores do povo católico. Este ataque de Ratzinger a núcleos reformadores dentro da Igreja Católica surge quando recebeu críticas ao compara o casamento entre pessoas do mesmo sexo ao “anticristo” numa biografia autorizada em 2020.

Na Alemanha, onde a biografia foi publicada e onde a Igreja Católica é comandada por clérigos considerados reformistas, Ratzinger é criticado com frequência. Bento XVI, que foi papa entre 2005 e 2013, é acusado de tentar sabotar os esforços de modernização da Igreja de seu sucessor, o Papa Francisco.

Há um século seria considerado absurdo falar sobre casamento homossexual. Hoje, quem se opõe a ele é excomungado da sociedade”, afirma Ratzinger. “Acontece a mesma coisa com o aborto e a criação de vida humana em laboratório“, disse. “A sociedade moderna está a formular um credo ao anticristo que supõe a excomunhão da sociedade quando alguém se opõe“, insistiu. De acordo com o papa emérito, “a verdadeira ameaça para a Igreja é a ditadura mundial de ideologias que se pretendem humanistas“.

O atual Papa Francisco também já criticou recentemente o núcleo católico alemão por incluir diaconisas e a celebração de casamentos entre pessoas do mesmo género.

“É impossível exagerar o dano causado pela repetida desumanização das pessoas LGBTQIA+ pelo Papa Bento XVI”

Marianne Duddy-Burke, diretora executiva de uma organização católica LGBTQ+, disse que as palavras do Papa Bento XVI prejudicaram as pessoas queer e prejudicaram as suas famílias. “A morte de qualquer ser humano é uma ocasião de tristeza. No entanto, a sua morte também nos chama a refletir honestamente sobre seu legado.”

As suas palavras e escrituras forçaram a nossa comunidade a sair das igrejas católicas, separaram famílias, silenciaram nossos apoiantes e até custaram vidas. Ele recusou-se a reconhecer até mesmo os direitos humanos mais básicos das pessoas LGBTQIA+“.

Como líder do Dicastério para a Doutrina da Fé, o Papa Bento XVI foi responsável por uma carta de 1986 que rotulou gays e lésbicas como “objetivamente desordenados”. A mesma carta dizia que as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo eram “intrinsecamente más” e “essencialmente autoindulgentes”.

A organização liderada por Duddy-Burke condenou o ex-pontífice por proibir a distribuição de preservativos pelas agências católicas de saúde e serviços sociais– uma medida que impactou a disseminação do VIH/SIDA.

Em 2012, o Papa Bento XVI manifestou-se contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, dizendo que “destruiu a essência da criatura humana”. Ele também disse que permitir que casais do mesmo sexo adotassem representava um “ataque” à “família tradicional”.

É impossível exagerar o dano causado pela repetida desumanização das pessoas LGBTQIA+ pelo Papa Bento XVI”, rematou Duddy-Burke. “Oramos para que a Igreja use o período de reflexão após a morte do Papa Bento XVI para reconhecer que, em muitos casos, ele usou seu poder de maneiras que falharam em promover a mensagem do evangelho de amor, unidade humana e responsabilidade de cuidar dos marginalizados.

Ratzinger foi acusado de ser um facilitador de abusos sexuais contra menores

A polémica mundial e recorrente dos abusos sexuais contra crianças e jovens dentro da Igreja Católica também chegou ao Papa emérito. Em janeiro de 2022, um relatório descobriu que Ratzinger não tomou medidas contra padres que abusaram de crianças durante a sua gestão como arcebispo de Munique, embora soubesse das acusações contra eles. O relatório divulgado contempla centenas de casos de abuso sexual ocorridos dentro da Igreja Católica alemã, incluindo na arquidiocese onde o Papa emérito foi arcebispo entre 1977 e 1982. Responsáveis pelo relatório consideram “pouco credível” a negação de Ratzinger que rejeita “contundentemente” as acusações, sustentando que não viram por parte de Ratzinger “nenhum interesse reconhecível” em agir contra os abusadores.

A Survivors Network of the Abused by Priests, uma organização que defende os sobreviventes, descreveu o Papa Bento XVI como um “facilitador de abuso”. E reforça que “já passou da hora de o Vaticano concentrar-se novamente na mudança: contar a verdade sobre o conhecido clero abusivo, proteger crianças e adultos e permitir justiça àqueles que foram magoados.”

O funeral de Bento XVI realiza-se dia 5, na Praça de São Pedro, no Vaticano, numa celebração presidida pelo papa Francisco.

2 comentários

  1. “As pessoas só atiram pedras às árvores que dão fruto! E quantos mais frutos mais pedras” (Gustavo Aschar).
    Neste caso o que vem de baixo não nos atinge! Que pretensão a vossa!! Ou é complexo de inferioridade?

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