Eleições em Espanha: Avanço da extrema-direta coloca em causa direitos das mulheres, migrantes e LGBTQIA+ que se julgavam cimentados

Eleições em Espanha: Avanço da extrema-direta coloca em causa direitos das mulheres, migrantes e LGBTQIA+ que se julgavam cimentados
Centenas de milhares participam no World Pride em Madrid, a 1o de julho de 2017.

Espanha vai a Eleições no próximo dia 23 e têm surgido vários ataques aos direitos humanos, nomeadamente contra as pessoas LGBTQIA+.

Tal como aconteceu em Itália, Espanha corre o risco da extrema-direita governar pela primeira vez desde a ditadura de Franco. A expectativa sobre as eleições, onde os tópicos dos direitos LGBTQIA+, das mulheres e da luta contra o racismo e xenofobia têm sido alvo de ampla discussão em Espanha.

A promessa do partido VOX está feita: A cidade de Naquera proibirá a bandeira do Orgulho em edifícios públicos, depois que o partido de extrema-direita ter chegado ao poder nas recentes eleições locais.

O VOX tem também apontado armas contra o financiamento que incentiva empresas a contratar sobreviventes de violência doméstica, na redução de equipas que fomentem a igualdade de género nas câmaras e retirar o financiamento de serviços que procuram ajudar migrantes a encontrar emprego. Entre as suas medidas mais polémicas está uma série de protocolos destinados a dissuadir as mulheres de interromper voluntariamente a gravidez.

O partido não tem, atualmente, jurisdição para implementar estas novas leis, mas “se há uma coisa que caracteriza o VOX é a guerra cultural e a reabertura de debates que foram resolvidos há muito tempo”, disse Beatriz Olandía da ONG Coordinadora de Mujeres de Valladolid.

Mesmo que sem consequências no imediato, estrago foi feito. O Vox forçou as mulheres a esforçarem-se por proteger os ganhos consolidados há décadas e descarrilou o impulso por mais progresso. “É um pouco paradoxal. Estamos em 2023 e, de repente, há um homem que abre a boca e temos que defender o nosso direito de decidir sobre nossos próprios corpos”, disse Olandía. “Onde é que tudo isso termina?

O Mês do Orgulho que precedeu as eleições em Espanha espelhou o receio de retrocesso civilizacional

Após o Mês do Orgulho, com as celebrações e manifestações um pouco por todo o país, no próximo domingo será testada a união espanhola sobre estes tópicos.

Pela primeira vez em muito tempo, sentimos que o Orgulho não foi sobre exigir mais direitos“, disse Virginia Hernández Gómez, do grupo de direitos LGBTQ+ Fundación Triángulo em Castilla y León. “Em vez disso, tratou-se de exigir que os direitos que temos não sejam tirados”.

O fluxo constante de antagonismo que tem emanado das instituições – seja na recusa de iluminar edifícios municipais, como feito em anos anteriores, ou numa série de comentários homofóbicos feitos dirigentes partidários – traduziu-se em crescentes preocupações de segurança. Um jovem foi severamente espancado durante as festividades por várias pessoas que supostamente usaram insultos homofóbicos. A polícia prendeu três pessoas e está a investigar outras cinco.

A maioria das sondagens aponta que o PP está no caminho de vencer as eleições em Espanha, mas que precisará do apoio da extrema direita para governar.

Espanha registou uma das maiores subidas no Rainbow Map de 2023 pela ILGA Europe, alcançando a 4ª posição. Portugal estagnou e perdeu o Top10 nesse mesmo índice.