
Um estudo recente, financiado em parte pelo Comité Olímpico Internacional e publicado no British Journal of Sports Medicine, examinou as capacidades atléticas de atletas trans e cisgénero. Os seus resultados evidenciam nuances importantes na discussão sobre a inclusão de atletas trans no desporto competitivo.
O estudo envolveu 35 atletas trans — 23 mulheres e 12 homens — que se submeteram a pelo menos um ano de terapia hormonal, e 40 atletas cisgénero — 21 mulheres e 19 homens — praticantes de desportos competitivos ou com treinos físicos regulares.
Os resultados mostraram que as mulheres trans apresentaram uma função pulmonar reduzida e densidade óssea semelhante às mulheres cis, a qual está relacionada com a força muscular. Em termos de desempenho cardiovascular e força do corpo inferior, as mulheres trans apresentaram resultados inferiores comparativamente às mulheres cis.
Além disso, foram identificadas diferenças significativas em medidas de massa gorda, massa magra e força de preensão manual entre homens cisgénero e mulheres trans.
“Pesquisa que compara homens biológicos com mulheres biológicas é quase irrelevante neste debate”
Yannis Pitsiladis, o investigador principal, destacou à LGBTQ Nation a necessidade das federações desportivas internacionais criarem diretrizes que tratem as mulheres trans distintamente dos homens cisgénero. Segundo Pitsiladis, estudos que comparam homens biológicos a mulheres biológicas são quase irrelevantes e não deveriam fundamentar políticas desportivas, contrariando quem defende proibições por defeito baseadas em comparações inadequadas.
A equipa autora do estudo aponta a limitação do tamanho da amostra e outras falhas metodológicas, sugerindo a necessidade de um estudo longitudinal de longo prazo para confirmar os efeitos desportivos da terapia hormonal. Posiciona-se ainda contra a implementação de proibições preventivas e exclusões de elegibilidade desportiva que não se baseiem em pesquisa específica e relevante para o desporto.
Federações com poucos argumentos científicos que justifiquem a proibição automática de atletas trans
Pitsiladis expressou o desejo de que este estudo facilite a criação de diretrizes próprias por federações desportivas menores para a inclusão de atletas trans, em vez de adotarem as posições de grandes federações que impuseram proibições totais à participação de mulheres trans em eventos femininos. Contudo, ele suspeita que a maioria seguirá as grandes federações devido a investimentos e políticas estabelecidas que muitas vezes ignoram a ciência e são guiadas por política e imposições do que por evidências científicas.
Este estudo sublinha a complexidade e a necessidade de abordagens baseadas em evidências na inclusão de atletas trans no desporto competitivo, desafiando perspectivas simplistas e promovendo um diálogo mais informado e científico sobre este tópico vital.

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