
O Campeonato da Europa de Futebol Feminino 2025 arrancou esta semana na Suíça com um feito histórico: pelo menos 78 das 368 jogadoras — mais de 20% — são publicamente LGBTQIA+. Este dado, avançado pela Outsports, marca um novo recorde de visibilidade queer num grande torneio internacional.
A percentagem representa mais do dobro da registada na última edição do Euro feminino em 2022, e é superior à do Mundial feminino de 2023 (13%). Em contraste gritante, nenhum jogador se assumiu publicamente como gay ou bissexual nos Euros masculinos de 2024 ou no Mundial masculino de 2022.
Num desporto ainda dominado pela invisibilidade queer no lado masculino, o futebol feminino afirma-se como um espaço de inclusão, onde muitas atletas vivem e partilham livremente as suas identidades e relações.
Portugal conta com quatro jogadoras publicamente LGBTQIA+ no Europeu Feminino de Futebol em 2025
Entre os nomes mais conhecidos, destacam-se as espanholas Irene Paredes e Alba Redondo, as neerlandesas Danielle van de Donk e Ilse van der Zanden, a sueca Lina Hurtig, a francesa Constance Picaud e várias jogadoras do País de Gales, incluindo Jess Fishlock e Sophie Ingle, que vivem casamentos ou uniões com outras mulheres.
O torneio conta ainda com histórias que ultrapassam o relvado. Pernille Harder (Dinamarca) e Magdalena Eriksson (Suécia), que ficaram conhecidas pelo beijo celebrado no Mundial de 2019, estão agora noivas e poderão defrontar-se logo na primeira jornada do Grupo C. Outro casal mediático, Beth Mead (Inglaterra) e Vivianne Miedema (Países Baixos), também poderá enfrentar-se na fase de grupos.
Portugal conta com quatro jogadoras publicamente LGBTQIA+: Telma Encarnação, Inês Pereira, Ana Seiça e Dolores Silva. A sua presença é especialmente importante num país onde o futebol feminino começa agora a ganhar maior reconhecimento público.
A treinadora do País de Gales, Rhian Wilkinson, é casada com a também jogadora Emily Menges. Pia Sundhage, lenda sueca do futebol e agora treinadora da Suíça, é também assumidamente lésbica.
Gales lidera o ranking com nove jogadoras abertamente LGBTQ+ — três delas participaram no Pride Cymru em Cardiff no mês passado.
A visibilidade LGBTQ+ expõe também disparidades legais entre países
Contudo, nem tudo são boas notícias. Entre os 16 países participantes, Itália e Polónia ainda não legalizaram o casamento entre pessoas do mesmo género, apesar de serem membros da União Europeia. E, apesar das declarações da UEFA sobre o compromisso com a diversidade, não houve este ano qualquer menção ao Mês do Orgulho por parte da organização.
Ainda assim, será permitida a utilização de braçadeiras arco-íris. A capitã da Alemanha, Giulia Gwinn, vai usar uma braçadeira arco-íris nos jogos após a aprovação da UEFA. “É bom para nós que isto tenha sido possível.“, disse Gwinn.
Recordar momentos de edições anteriores — como Leah Williamson a usar a braçadeira arco-íris durante a campanha vitoriosa de Inglaterra ou o já mencionado beijo entre Harder e Eriksson — é lembrar o poder simbólico da visibilidade queer no desporto.
Numa altura em que atletas LGBTQIA+ continuam a enfrentar discriminação em vários contextos, a coragem destas jogadoras envia uma mensagem clara: é possível jogar ao mais alto nível, vencer e ser visível, sem compromissos.
O Euro feminino 2025 decorre até 27 de julho. No campo e fora dele, estas atletas continuam a inspirar e a abrir caminho para um desporto mais justo, representativo e inclusivo.

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