Orgulho sob ataque: Extrema-direita alemã intensifica investidas contra comunidade LGBTQIA+

Orgulho sob ataque: Extrema-direita alemã intensifica investidas contra comunidade LGBTQIA+

À medida que centenas de eventos do Orgulho (como o Christopher Street Day -CSD) decorrem na Alemanha este verão, a comunidade LGBTQIA+ enfrenta uma nova ameaça: a mobilização coordenada da extrema-direita, que procura silenciar as suas vozes e apagar a sua presença do espaço público.

Grupos de extrema-direita estão a organizar contra-manifestações com slogans como “Homem e mulher. A verdadeira base da vida”. Estes eventos tentam posicionar-se como celebrações da “família tradicional” e estão a atrair jovens e adolescentes para movimentos extremistas com discursos anti-LGBTQIA+.

Em cidades como Bautzen, Regensburg e Wernigerode, asorganizações dos eventos do Orgulho têm sido alvo de intimidação, ameaças online e até planos de ataques. Em Wernigerode, um jovem de 20 anos ameaçou abrir fogo contra participantes do CSD local. Em Berlim, a polícia impediu um ataque violento numa marcha.

Lea Krause, organizadora do CSD em Bautzen, relatou que “as ameaças são muito mais agressivas online por causa da suposta anonimidade. Mas na rua também é difícil, porque estamos cara a cara com estas pessoas. E sabem exatamente quem somos.”

Radicalização de jovens alastra-se

Durante muito tempo, a extrema-direita alemã concentrou-se na migração, no Islão, no ceticismo da UE e no coronavírus“, disse Sabine Volk, investigadora do Instituto de Investigação sobre Extremismo de Extrema-Direita da Universidade de Tübingen. “Mas no rescaldo da pandemia, assistimos a um aumento do foco na queer-fobia, no discurso anti-LGBTQ+ e, desde o ano passado, em atividades de protesto“.

No ano passado, o evento de Bautzen atraiu quase 700 extremistas de direita para uma contra-manifestação. Muitas destas pessoas eram menores de idade.

Esta radicalização crescente está a ser monitorizada pelas autoridades. Holger Münch, da Polícia Criminal Federal, alertou:

“Temos de perceber que há uma viragem à direita na sociedade como um todo, especialmente entre jovens, e um aumento na aceitação da violência.”

Extrema-direita convoca contra-manifestações ao Orgulho

A extrema-direita tenta ainda apropriar-se da simbologia do Orgulho, promovendo o “Stolzmonat” (Mês do Orgulho [Nacional]) como uma alternativa anti-LGBTQIA+. No site da AfD, partido de extrema-direita, pode ler-se que esta campanha pretende “dar o exemplo de valores tradicionais, laços familiares e estabilidade em tempos de incerteza”.

A retórica usada é sedutora para jovens descontentes, especialmente homens, que são muitas vezes recrutados através de grupos aparentemente apolíticos como clubes de desportos de combate.

Sabine Volk, investigadora na Universidade de Tübingen, explica como “o discurso anti-LGBTQ+ tem sido particularmente eficaz na radicalização de jovens que não se identificam inicialmente com ideologias extremistas.”

Krause disse estar confiante de que a polícia será capaz de proteger a marcha deste ano, mas teme violência de extrema-direita à margem do evento. Viajar de e para o evento sozinha ou em pequenos grupos, disse ela, “é obviamente perigoso“.

Mas, apesar do clima de medo, há resistência e apoio dentro da comunidade. Krause acredita que o CSD deste ano em Bautzen terá ainda mais participantes:

“É muito bonito ver que algumas pessoas aqui querem mesmo levar isto até ao fim. Somos muito corajosas e sentimos força para continuar.”

A comunidade LGBTQIA+ tem um histórico, por vezes esquecido, de perseguição na Alemanha nazi

Num contexto europeu de avanço da extrema-direita e de crescente discurso de ódio, o que está a acontecer na Alemanha deve servir de alerta. A celebração do Orgulho é mais do que uma festa — é uma afirmação de existência e de direitos humanos. E, como nos lembra Krause, continua a ser um ato de coragem.

Também não podemos esquecer a memória histórica: durante o regime nazi, milhares de pessoas homossexuais e bissexuais foram perseguidas, presas e deportadas para campos de concentração com o triângulo rosa como marca de exclusão.

A repetição de narrativas de ódio contra pessoas LGBTQIA+ na Alemanha de hoje mostra como essa memória continua urgente. Lembrar é resistir e sobreviver.



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